terça-feira, novembro 28, 2006

 

A minha humilde (e sem dúvida considerada arrogante) opinião sobre a despenalização da IVG.

1. O debate está de novo no ar. Em 1998, o governo de António Guterres lançou a referendo a discussão da despenalização, no qual o Não ganhou por uma margem mínima porém não vinculativa. Vozes insurgiram-se para ignorar um referendo não vinculativo, mas foram silenciadas com a inércia do tempo e do status quo. Hoje está tudo em paranóia de novo, com sondagens que indicam que desta vez os fetos já não escapam.

2. Abrindo um pequeno parêntesis, todo este processo lembra-me um processo semelhante à da Dinamarca e aos seus referendos contínuos sobre a sua inclusão na União Europeia. Acho no mínimo curioso que se chame um acto de "democracia" ao apelo contínuo de referendos até ao momento em que o "sim" ganhe, momento sempre coincidente com a finalização de apelos de referendo sobre a matéria. Pura coincidência. Do mesmo modo, compreende-se que enquanto não se votar "sim" nesta questão, nunca nos deixarão em paz (até que ponto um referendo com este estado de espírito consegue ser revelador senão de uma resignação ou rebeldia sobre quem nos dirige?). Terão sempre sobre nós o olhar desiludido de quem se resigna com o "povo" que lidera, enquanto não tomarmos a decisão "certa". Tomada, não se voltará atrás, "certa" que a decisão está. Isto é uma perversão da finalidade do que deve ser um referendo. Este deixa de ser um verdadeiro exercício de democracia, sendo antes um exercício de educação por parte do poder sobre o povo, e quem chumba quando os referendos são negativos, é o povo "atrasado" e não as leis que foram a votos. Quando, pelo contrário, votam "sim", passaram o teste da civilização e modernidade. O "povo" compreendeu finalmente onde reside o seu próprio bem.

3. (Deletado por incoerência própria, que querem? errare humanum est)

4. O governo conta ainda com a ajuda dos media como meios acríticos propagandistas, que não hesitam em denunciar casos demagógicos e singulares, sem nenhuma perspectiva global ou estatística, apresentando sempre alguém afirmando números no género "ouvi dizer que tal e coisa", e nunca apresentando o contraditório. Não existem estudos que comprovem quaisquer números sobre o aborto clandestino, (porque a direita ignorou o assunto e porque à esquerda interessa-lhe mais a especulação do que a realidade estatística), mas não falta quem defenda irresponsavelmente que os números sobem às várias dezenas de milhares por ano.

Sobre isto gostaria de contar uma história, que além de verídica, é famosa. Nos Estados Unidos, enquanto o famoso caso Roe vs Wade, que em 1973 permitiu a prática do aborto, prosseguia nos tribunais, uma campanha intensiva aconteceu nos media, onde os "pro-choice" argumentavam que existiam pelo menos um milhão de abortos clandestinos por ano. Ninguém deu voz a quem disse que era um tremendo exagero e uma falsidade, sendo acusados de "diminuírem a situação". O que é facto, é que anos depois, alguns membros destas facções reconheceram a mentira, e que inclusivé admitiram exagerar os números em 1000%. Não eram um milhão, mas cem mil.

Outro dos argumentos "pro-choice" seria o de que os abortos não aumentariam com a legalização, pois ninguém deseja abortos. Ora, o número de abortos nos anos seguintes à legalização ultrapassavam o milhão de abortos por ano, mostrando a dupla conveniência do número falso adiantado pelos "pro-choice" de abortos clandestinos. Segundo estes números falsos não teria existido um aumento de abortos significativo, provando a sua tese. Se tivermos no entanto em conta que, em estudos de opinião a quem fez o aborto legal, 70% disseram que não teriam aquela decisão se fosse ilegal e apenas 4% tiveram a certeza de que o fariam na mesma, chegamos à óbvia comprovação que o milhão adiantado pelos grupos era uma falsidade propagandista. Recordo que 1 milhão em 250 milhões de americanos é a mesma proporção que 40 mil em 10 milhões de portugueses. Atentem aos números que ouvirem.

5. A incoerência de prioridades médicas.

Um dos argumentos a favor do sim é a de que existem várias mulheres que não conseguem economicamente sustentar mais um filho. Tendo em conta que outras e variadas razões de carácter complexo sustentam a validade desta decisão dramática, outro argumento é que "nós não temos nada a ver com isto." Vou tentar desmontar estes mitos, ou pelo menos desmitificá-los.

Se uma das razões é económica, poderemos então extrapolar desde já algumas consequências da despenalização da IVG: o aborto passará a constar das cirurgias que um hospital deve fazer e que os seus custos são suportados pelo estado. A primeira destas consequências é grave, já que o aborto é, pela sua natureza temporal, uma cirurgia urgente, e por este facto intrometer-se-á na já lentíssima fila de espera de cirurgias. Pacientes que padeçam de uma doença real e dolorosa, verão as suas prioridades serem trocadas pelos abortos. Não é coisa pouca. Nos EUA, o aborto é a cirurgia mais praticada actualmente.

O facto de os custos serem suportados pelo estado significa, pelo outro lado, que eu tenho afinal o direito de discutir a validade da prática do aborto nos hospitais. Já que os pago, (e já os pago, infelizmente) tenho o direito de informar que não concordo. E já agora, de votar sobre isso.

6. A teimosia do Não.

Continuamente tem sido colocado o argumento de que a ala "conservadora" tem uma teimosia perante a questão dos direitos das pessoas, das suas liberdades e do progresso em geral. É capaz de ser verdade. Gostaria no entanto de lembrar a estas pessoas de que o "não" não é composto inevitavelmente por pessoas estereotipadas que andam de fato e gravata, fumando charutos e cheias de balelas filosóficas a que chamam de "valores".

Segue logicamente que este não é de todo um argumento válido, é antes um ad hominem com o qual repetidamente me confrontam e já nem tenho paciência para me ofender com isso. Parem com isso, seja quem for. Discutamos antes o aborto, e deixemos de lado as franjinhas ridículas da bancada do CDS para outros momentos menos sérios.

7. O meu argumento fundamental é simples e não foge à lógica geral de quem como eu irá votar "não".

O aborto é crime, porque é uma pessoa e não um parasita ou um "problema" cuja vida está em causa. Não existem barreiras fisiológicas e biológicas capazes de definir o ponto em que deixamos de ser uma "coisa" e passamos a ser "alguém", pelo que deveremos ter sempre o benefício da dúvida do lado do feto e não da sua mãe. Por mais problemas que lhe traga, não se deve colocar em risco o direito alienável à vida.

8. Argumentar-me-ão que uma célula não é um ser humano. Mas em dez semanas, o corpo humano já possui milhões de células e é perfeitamente reconhecível em todos os seus pormenores. Convém compreender o que nos difere assim tanto que nos permita matá-los impunemente. Porque não pensa? (o que diriam os atrasados mentais sobre isso, se conseguissem entender as implicações?) Talvez porque não vê? (O que diriam os cegos sobre isso?) Porque não sente dor? (Como se deixasse de ser um crime matar alguém apenas porque este alguém é incapaz de sentir dor). Não existe nenhuma característica particular sobre a qual possamos basear a justificação da sua morte.

Excepto uma: é pequeno e indefensável, e ninguém sentirá a sua falta se morrer, pois nunca ninguém chegou a conhecê-lo. Quem se importa? It's none of our business really, it's Somebody Else's Problem.

Parece um argumento tipo "tadinho" versão TVI, mas não é. Trata-se que o respeito que temos pelos outros deve ser igual àquele que nós desejamos ter para nós próprios. Estamos a relativizar o valor da vida!

8. Existem mais argumentos. Incluem-se entre eles uma recusa da aceitação de uma nova cultura pragmaticista e economicista que coloca problemas materiais e psicológicos num patamar superior à própria vida (debate que se prolongará na próxima temática da eutanásia); a recusa de aceitar o aborto como método válido de contracepção; a recusa em aceitar uma medida que envenenará a longo prazo o espírito Hipocrático dos médicos; entre uma imensidade de outros argumentos dos quais não me ocorre nenhum neste momento.

quarta-feira, novembro 22, 2006

 

scifi geek moment - paranoid android


Marvin, o robot de "The Hitchhiker's guide to the Galaxy", é provavelmente uma das personagens mais deprimentemente hilariantes que já tive a honra de ler. É aquele tipo de personagem que, por mais que alguém tente animá-lo, dar-lhe uma perspectiva de vida que seja positiva, apenas consegue arrancar-lhe uma resposta demolidora. Aconselho-vos vivamente a leitura.

Algumas das suas tiradas:

domingo, novembro 19, 2006

 

Livro dos sarcasmos I

Já repararam que todos os que defendem o direito ao aborto já nasceram?

sexta-feira, novembro 17, 2006

 

Uma lufada de água quente



O arquitecto português Jorge Graça Costa ganhou a medalha de ouro do concurso internacional de design organizado pela Fundação Japonesa de Design, no valor de 10 mil dólares, segundo a Ordem dos Arquitectos.

Aconselho-vos a leitura da revista "Arquitectura & Construção" nº 39, no qual o projecto está representado em extensão. Sob o título de "mottanai" (termo japonês que significa reduzir, reutilizar, reciclar e reparar), o projecto vencedor é o desenho de uma casa bioclimática bastante simples, em forma de caixa suspensa com o sentido do vão (virado a sul) em comprido e com uma piscina a acompanhar toda a extensão do seu comprimento, quase à Souto Moura. A peculiaridade está no sistema "Through Wall" - "a rain water system for saving energy".

A ideia é genial e simplicíssima: a criação de uma parede de água, que funcione como uma parede de trombe, mas neste caso em que se aproveita a transparência do vão. Este tipo de janela é constituído por três panos de vidro. Entre o primeiro e o segundo existe um fluxo de ar (isolamento térmico), e entre o segundo e o terceiro existe ora um fluxo de água (inverno) ora um de ar (verão). A luz solar, que só incide no vão durante o inverno devido ao sombreamento bem desenhado, aquece a água que se encontra entre dois panos de vidro. Devido às características de inércia térmica da água, esta é capaz de "armazenar" o calor durante o dia para o libertar à noite.

O mais genial é que a água utilizada não é mais do que a da chuva, que depois de armazenada e posta em circulação nestes vãos, pode ainda ser reutilizada para rega, descargas sanitárias ou mesmo na piscina. Pequenos pormenores como a utilização da ventilação transversal para levar o ar mais fresco da piscina para dentro de casa não foram esquecidos.

O resultado é a redução de custos energéticos até ao máximo de 30%, a redução do consumo de água (até 50%) e, obviamente, a redução de emissões de carbono.

O sistema vai entrar em fase de desenvolvimento, e não posso esperar pelo resultado.


quinta-feira, outubro 26, 2006

 

Google Groups Newsletter

Pequeno update no site: a partir de hoje podem mandar uma mensagem para enquanto-houver-couves-subscribe@googlegroups.com, e assim receber todas as entradas neste pequeno blog automaticamente, não perdendo pitada destas deambulações, embora não veja demasiado interesse nisso. Seja como for, apeteceu-me fazer isto. Cumprimentos!

 

Revestimentos do futuro















Admitamos, mesmo que não acreditemos em teorias apocalípticas, que o crescimento imparável e geométrico do consumo de energia, avaliado em mais de 2% ao ano, vai requerer que o mundo duplique a sua produção energética em 30-35 anos.

Tendo em conta as crescentes dificuldades do sector em corresponder ao consumo, cenários dantescos são criados pelos chamados de "neo-malthusianos", que nos dizem que o mundo capitalista está prestes a acabar de uma forma abrupta, todos os males vão ser purgados e coisa e tal. Não sou tão pessimista embora reconheça que enfrentamos uma crise única na nossa história. Acho sobretudo que esta crise é uma oportunidade.

E o mercado dos painéis solares pensa exactamente o mesmo. Neste post divago um pouco sobre os painéis fotovoltaicos, pois os painéis de aquecimento de águas têm a sua viabilidade económica já completamente assente e comprovada no mercado. Num outro post talvez vos demonstre a sua viabilidade cada vez maior.

Os painéis FV (fotovoltaicos), com um crescimento exponencial que quase duplica a cada ano que passa, novas tecnologias têm rentabilizado cada vez mais o produto, tornando-o mais próximo da sustentabilidade económica individual, isto é, por cada pessoa, casa, telhado.
Vou-vos fornecer uma visão numérica da situação. Hoje em dia um painel fotovoltaico tem uma capacidade de transformar entre 8 a 16% da energia solar em electricidade. Isto significa que em Portugal, no melhor caso, consegue-se por cada m2 de placa fotovoltaica gerar cerca de 15% (eficiência da placa) de cerca de 1500 kWh/ano de radiação total que o sol fornece (no caso do painel estar na horizontal, aumentando para quase 2000 se tiver a inclinação correcta), o que resulta em 225 KWh/ano.

Considerando um consumidor médio português de 3500 Kwh/ano, seriam necessários 16m2 de painel solar para colmatar totalmente o consumo energético (um bom consumidor de energia poderia aumentar este número para 20, porventura 25m2).

Teria o tamanho de uma sala. E caríssimo, com custos actuais na ordem dos 4 €/watt. Um painel de 20m2 teria um preço final (com os acessórios incluídos) estimado entre 15000 a 20000 € (este é um valor deduzido. Não encontrei ainda dados concretos dos distribuidores).
É caríssimo. Mas será viável? Pensemos um pouco. Normalmente estes painéis têm uma vida longa de 30 anos e a maior parte contém uma garantia de 25 anos. Pouca manutenção é necessária, e incide sobretudo nos acessórios. Portanto, teríamos em tese 4500 Kwh criados por ano nesse painel de 20m2 durante 30 anos, resultando num final de 135000 KWh totais. Hoje, o preço do Kwh situa-se nos 0,20 €/Kwh. Mesmo considerando um preço que já sabemos que não se irá manter, pouparíamos 135.000 x 0,20 = 27.000 €. A margem de lucro é algo considerável, mas o payback-time ainda está demasiado longe, 15 anos aproximadamente, havendo ainda que considerar que qualquer energia produzida a mais em determinada altura teria de ser vendida à edp, por um preço bem inferior aos 0,20 € /Kwh, diminuindo assim o valor final de lucro pessoal.
Não é uma solução totalmente viável no presente, a não ser que sejamos um pouco excêntricos. Mas se pensarmos que as inovações actuais da tecnologia estão a baixar os preços para valores como 2 €/w, havendo o objectivo de chegar em quatro anos a 1 €/w, adivinha-se um negócio rentável bastante próximo no futuro, com payback-times na ordem de 3-5 anos, para todos os que possuam uns metros quadrados disponíveis ao sol.

Considerando uma futura crise energética e aumentos sempre crescentes no mercado agora liberalizado, (embora hajam demasiados mitos sobre os preços crescerem ao invés de diminuírem com a liberalização e a diabolização do "grande capital") esta deve ser considerada uma solução para pelo menos começarmos a ter em conta, e, para o arquitecto, que belas oportunidades para explorar novos tipos de revestimentos, novas estéticas, novas imagens, a par de novos funcionamentos, novas estratégias ambientais. Junte-se a elas o inevitável aquecimento de água também por painel solar, colector de águas pluviais e sistemas passivos ambientais, enfim, estará o sonho do Corbusier de uma casa-máquina começado realmente a tornar-se uma realidade?

Para um pouco de mais informação sobre painéis FV:

A imagem em cima é um tecido fotovoltaico que se pode dobrar e levar para qualquer lado, uma nova geração de baterias para, por exemplo, acampar!


terça-feira, outubro 24, 2006

 

Pequena boa leitura

Isaac Asimov "The Last Question".

 

Arquitecturas virtuais

Unreal Engine 3


Confesso, sempre fui um viciado em jogos de computador, e sobretudo, embora inconscientemente, inclinado para aqueles que me conseguiam transmitir uma sensação espacial virtual bastante realista. Quando pequeno, o Wolfenstein 3d maravilhava-me, onde pela primeira vez um espaço completamente tridimensional era renderizado com a mesma velocidade e qualidade que qualquer Supermarioland ou Sonic the Hedgehog, o que era fantástico. Seguiram-se os indispensáveis Doom e Doom 2, Duke Nukem 3d.

A inteligência destes jogos não consistia apenas na "jogabilidade" em si, viciante que era e sobretudo em duelos, mas para mim era a própria ideia de caminhar num espaço virtual, renderizado em tempo real, cuja qualidade era comparável a um render do 3d studio na altura. O extraordinário disto é que enquanto o 3D Studio demorava minutos a renderizar um frame, este tipo de jogos fazia-o num vigésimo de segundo, e repetia-o constantemente, dando a ilusão de inclusão espacial. E esta economia de recursos fascinava-me. Truques de perspectiva (os monstros não eram mais do que imagens bidimensionais colocadas no mundo tridimensional, chamadas de sprites, por exemplo), de luzes (as paredes eram pré-renderizadas, técnica desenvolvida em jogos como o Quake2) foram acompanhando o desenvolvimento da velocidade do sistema pc ao longo dos anos.

Com espanto fui testemunhando o avanço incrível desta tecnologia. Quake 3 continha um realismo sem precedentes, mas, tal como os seus antecessores, bastavam alguns meses para que novos jogos ultrapassassem o seu nível de qualidade, tornando-o hoje em dia num título nostálgico, longe vai a sua novidade. Seguiram-se naturalmente jogos como Unreal Tournament, os Tomb Raider, MDK2, mais tarde Far Cry, etc. A última geração desta tecnologia deu, no entanto um salto gigante em 2004 quando a id software lança o Doom3, e pela primeira vez, o sistema de luzes era renderizado em tempo real, com modelos extremamente detalhados, e efeitos lumínicos a roçar a perfeição. Parecia inacreditável que um mesmo pc que demorava dezenas de minutos a desenhar um cenário realista, demorasse menos de um sexagésimo de segundo a desenhar cenários tão bons.


Hoje a evolução continua. Em 2003, a Epic lançou o motor gráfico Unreal Engine 3, concebido para a nova geração de jogos (2007 em diante). A imagem no topo é da sua autoria. Esquemas inteligentes transformam um cenário de milhões de polígonos em poucos milhares, através da criação de bump-maps; a utilização de soft-shadows e dezenas de efeitos shaders fazem o resto, gerando cenários de uma qualidade astrondosa. Assassin's Creed da Ubisoft é um dos títulos com essa tecnologia mais esperados de 2007. Mas tal como o Quake 3, faltará pouco para que estes títulos pareçam ultrapassados. Dou-lhes 5 anos.

Screenshot do mundo virtual de Assassin's Creed

Esta evolução gráfica tem sido acompanhada pela evolução de tecnologias de ligação que permitam multi-jogadores, e enquanto os primeiros jogos permitiam apenas um duelo ou pouco mais que isso, hoje em dia é possível jogar um opg (one-person-shooter) com mais de 1.000 jogadores online no mesmo jogo (MMORPG). World of Warcraft é o melhor exemplo de uma sociedade virtual, com imensas implicações inerentes, existindo aventuras mas também negócios, mercado, capital. Uma economia virtual, com determinados "mundos" gerando um PIB maior do que os países mais pobres do mundo, ilustram bem o interesse gerado.

No futuro, jogos com a qualidade de Assassin's Creed e com a jogabilidade e interactividade de World of Warcraft, sem dúvida até superando-a, farão parte da "vida" pessoal de milhares de seres humanos, com uma tendência psicológica perigosa quanto a mim de se alienarem da já chamada e distinta RL (Real Life) em oposição à virtual. Existe a famosa história de um jogador de mmorpg's que morreu após 50 horas de jogo seguidas sem recurso às suas necessidades básicas.


Ainda de realçar o grande avanço nas tecnologias VR, especialmente na interacção corpo-máquina, com a criação de jogos de wrestling, dança, basketball, etc, onde se requer o movimento físico do jogador para mover o personagem virtual.

A união de todas estas novas tecnologias combinadas com a crescente banda larga possibilitada na internet expõe-nos a cenários de interactividade social futuros quase impossíveis de imaginar. Quais serão as arquitecturas, os Urbanismos deste futuro? Que riquezas espaciais e tácteis irá a mente humana conceber? E quais as consequências à chamada "RL"?


sexta-feira, outubro 20, 2006

 

referendo à vista









Inevitável: para 2007 temos o referendo que vai acabar com a hipocrisia, o abuso ao direito das mulheres e o tipo de vexames que não se evitou em Aveiro e em Gaia. Pelo contrário, da nossa caravela avista-se ao longe terra, fértil de liberdade, igualdade e oportunidade. E riquezas, pois então. Não só se avista o fim de um opressivo pudor, como também um enorme pote ao fim do arco-íris. Está-se a falar de milhares de empregos e de o início de um negócio de milhões, agora legalizado e socialmente consentido. Não podemos ignorar os benefícios sociais e económicos.

E por estas razões há que apressar o inútil debate público. Como disse e bem alguém na rádio, nem se deveria debater os malefícios do aborto "porque toda a gente sabe que o aborto é mau", todos os pecados são maus, mas pecado não é crime. Aliás, acabe-se com toda esta inutilidade da moralidade. A própria pergunta no referendo é explícita e só não entende quem for parvo, passo a citar: "queres mudar a porra da lei ou não? Só tens duas hipóteses, ou continuas hipócrita ou assinas por baixo".

Porque não há alternativas. Oito ou oitenta. Não há verdadeira discussão pública, apenas uma campanha para a criação do maior negócio "fracturante" da medicina, campanha contínua desde a derrota de 1998. Tenho pena. Muita. Porque sempre detestei esta lei que culpabiliza as mulheres, mas abomino outra que legalize as actividades médicas de modo a rentabilizarem à custa de uma das mais dilacerantes decisões que uma mulher pode tomar. Não vejo um embrião como um parasita. Lamento. E nem me passou pela cabeça tomá-lo como tal quando me apercebi que iria ser pai, à revelia de todos os planos e possibilidades pessoais das quais me vi privado. Mas estamos entre a espada e a parede, e quem resiste é hipócrita, não se apercebe que há pessoas que têm "outros pontos de vista". Claro, é conforme os gostos. Eu gosto de amarelo e tu gostas de pensar que o feto é uma anomalia facilmente removível. Bela caixa de pandora que se abre. Arre que frustração.

Da caravela avista-se outra terra mais distante. O próximo porto de mais liberdades e oportunidades. Chamam-lhe o florescente mercado da eutanásia e do casamento de homossexuais. Abram-se as velas e deixemo-nos guiar pelo vento do progresso.

quinta-feira, outubro 19, 2006

 

plug out

No post anterior referi-me à liberdade extraordinária desta nova onda de internet, proporcionada pelas novas condições disponíveis (limites de tráfego crescentes, bandas largas cada vez mais rápidas) mas também impulsionadas por novos visionários que levam estas tecnologias ao limite, como a Google, a Youtube, Myspace, o próprio mundo dos blogs, Rss feeds, etc.

O que é fantástico neste "novo" mundo é que leva o anonimato moderno ao limite. Este anonimato, presente nas ruas quando passamos por "ilustres" sem quase nos darmos por isso, existe por uma supressão das diferenças no vestuário (antigamente percebia-se de imediato quem era o "capitalista" e quem era o "trabalhador". Hoje nem tanto), que ao chegarmos ao mundo da internet desaparece por completo. Aqui somos todos verdadeiramente "iguais" à chegada, sem outra imagem que não a nossa própria imaginação ou retórica no discurso.

Àparte dos problemas relacionados (pessoas que deixam o "mundo real" para se alienarem neste universo, como no caso de jogos MMORPG), as possibilidades são aliciantes, pois sugere um modelo social inteiramente novo, hipertextual. Um novo tipo de relacionamento entre pessoas e entidades, onde as regras são experimentadas e discutidas pelos próprios utilizadores. Cada um é livre de criar o seu "território" e descrever as regras com as quais cada um se entende. Discute-se tudo com muito maior rigor, tenacidade e confrontação do que em qualquer média oficial existente (cuja função parece ser sobretudo "informar o coitado do ignorante povo"). O nosso "estado", por exemplo, parece estar a anos-luz de chegar a este nível de "democracia".

Pena é que este ninho de liberdade esteja tão dependente das tecnologias que o servem. Não seria possível ter este tipo de comunicação sem blogs, sem internet? Sinal dos tempos, sobretudo do desintegramento social que vivemos, cada um virado para o seu computador e televisão (as crianças já não brincam ao monopólio. Jogam World of Warcraft). E é perigoso, sobretudo tendo em conta a situação energética em que nos encontramos num futuro próximo.

Ontem, houve um apagão aqui no atelier durante o dia inteiro. Vazio, não se fez nada. Senti-me inútil e impotente, como toda a gente aqui, mas nunca se falou tanto em arquitectura como neste dia. Curioso não é? Penso por outro lado se um dia não iremos plantar couves outra vez... e enquanto as houver...

sexta-feira, outubro 13, 2006

 

sexta feira 13 mas pouco

Um dia como todos os outros!

Tenho escrito pouco mas pensado muito. Descoberto ferramentas interessantíssimas, das quais vos vou falar, seguido de um pequeno pensamento sobre como estas mudanças alteram o nosso panorama social e intelectual.

Várias navegações levaram-me ao Google Desktop, após uma pesquisa ao futuro do windows, o chamado Windows Vista e o seu sidebar. Queria qualquer coisa parecida. E existe! Com esta ferramenta, posso ter o meu gmail à vista, assim como um RSS feed, um dicionário inglês, tempo, estado de bateria, gerenciador de tarefas, tudo o que eu quiser, perfeitamente adaptável aos meus desejos. Mas talvez mais importante que isto é o facto de que qualquer pesquisa de ficheiros que faça, por maior que seja o meu disco, demora-me na ordem de segundos. Bem, décimas de segundos é uma melhor aproximação. Muito melhor do que ver o idiota do cão do windows a vasculhar o nosso lixo da maneira mais lenta e estúpida possível (mas também, o que se pode esperar do intelecto de um canídeo?!?), demorando por vezes dezenas de minutos. Impressionante é que dou por mim até a deixar de "navegar" pelas minhas pastas um pouco mais antigas para ir buscar qualquer ficheiro. Basta-me procurá-lo no Google Desktop e voilá.

Tudo isto descobri a propósito da chamada revolução do novo windows "vista". Vejam este video para terem uma ideia sobre o futuro do nosso sistema operativo. Potencialidades muito bem vindas. Pena é que sejam quase mais velhas do que o próprio Windows XP e tenhamos de esperar 5 anos por elas. Quem conheça o Mac OSX sabe do que estou a falar. De facto é uma desilusão, e a melhor notícia é que não temos de esperar mais, nem tão pouco adquirir o novo windows, cada vez mais aplicações de terceiras empresas nos fornecem estas lacunas no XP.

Por outro lado a Google está a comprar o YouTube, outro site que tenho aprendido a gostar imenso nos últimos meses, pelo seu anarquismo total e adesão máxima tanto de quem faz como de quem vê. Parece alterar o modo como vemos televisão. Até há pouco tempo, se não tínhamos visto alguma coisa interessante na TV... azar. Hoje parece que há um geek em cada canto a gravar precisamente aquilo que queríamos ver e não vimos e a "postá-lo" no youtube. Os meus favoritos são obviamente os vídeos do Daily Show e do Colbert Report... uma pérola é este vídeo com o Jon Stewart mais sério que já vi (e incrível como não deixa de ser hilariante) a ser entrevistado por um programa televisivo de debate ideológico da CNN, com o nome sugestivo de Crossfire, tendo a coragem de chegar ao programa e criticá-lo "não apenas porque é mau, mas porque está a fazer mal à America". Seis meses depois o programa acabou. Brilhante!

Outro vídeo interessantíssimo é por exemplo este "work in progress" de Noé, que tirou uma foto sua todos os dias nos últimos seis anos e as colocou num único vídeo de 5 minutos. Música lindíssima e uma sensação de efemeridade da vida nunca vista, será que vai continuar o seu projecto até morrer? Ainda se pode aprender um pouco de história, por exemplo, ouvir um discurso de M. Luther King, Winston Churchill, ou até mesmo procurar um pouco de arquitectura, há videos interessantes (embora enfim, reconheça que neste ponto nem tenho investigado muito).

Ainda outro site interessantíssimo, que, embora já o conhecesse há bastante tempo, o tenho visto com outros olhos ultimamente, é o famoso Wikipedia. Está a crescer! E o mais interessante é que eu, do nada, posso chegar ali e mudar completamente qualquer artigo. Posso discutir com as pessoas mais interessadas sobre o mesmo artigo e chegamos a conclusões interessantíssimas. O resultado ainda mais inacreditável é que cada artigo, por mais polémico que seja, acaba por se tornar extremamente sensível, sensato e rigoroso. Posso criar artigos absurdos (do ponto de vista enciclopédico), mas se por algum motivo esse artigo for útil ou for apreciado por uma certa comunidade, ele crescerá a olhos vistos (pequeno exemplo: artigo sobre bombas de GPL disponíveis em Portugal, ou porventura artigos de servidores disponíveis para jogos de computador). É, no fundo, um enorme bloco de notas construído pelo e para o mundo, do homem comum para o homem comum.

Surge-me um pensamento. O de que a internet verdadeiramente livre está a começar a existir realmente, derivados da combinação impressionante (e fundamental) da lógica faça-você-mesmo, partilhe-tudo, interaja-com-todos, e da acessibilidade instantânea e fácil a toda esta gigante pilha de dados que é o mundo inteiro. Um verdadeiro espaço social está a ser criado neste mundo virtual (e há que dizer algo sobre a "arquitectura" deste espaço. Fazer porventura uma analogia com a realidade, uma comparação, de modo a porventura extrair algo de novo... para a próxima). A grande ironia disto é que quem patrocina e investe nesta anarquia e liberdade extrema está-se a tornar parte da big corporation, o mesmo sector que luta incansavelmente para limitar este fenómeno, acusando a população de pirataria e abuso de direitos de autor, assim como de subjectividade - nunca esquecendo a rivalidade crescente entre o "jornalismo" e o "bloguismo" por exemplo, ver esta pérola do Daily Show sobre o assunto - . Será o fim da velha, enorme e conservadora corporação, ou apenas um intervalo optimista entre momentos de controle total? Dadas algumas previsões do futuro, apenas posso concluir: aproveitemos enquanto há tempo!

sábado, julho 22, 2006

 

the shallow sleep

É verdade, este blog parece um deserto. Mea culpa, que por culpa de assuntos derivados da questão chego a casa invariavelmente entre a meia noite e meia e as duas da manhã, para logo acordar às oito e rumar à aventura quotidiana de estar sentado nove horas por dia à frente de um monitor e ao lado do telefone, coisa tão estonteante que nos embrulha a todos os colegas presentes de tal modo que mal nos falamos durante o dia.

Tem piada, sempre pensei que trabalho de atelier seria muito mais em equipa do que é realmente. No fundo é cada um por si a tentar tapar os buracos dos seus colegas, barafustar por isso e inadvertidamente criar outros buracos, para os nossos colegas resolverem e barafustarem por isso.

Não é que esteja a fazer trabalho chato, nem me queixo disso - qualquer dia ainda posto qualquer coisa mais sobre a essência do que faço - mas é mais a ausência de debate, crítica, discussão sobre projecto e a focalização sobre as entregas, a imagem que se vende ao cliente, os problemas funcionais e legais (aquela coisa de que tanto falam sobre os arquitectos de terem de resolver "problemas"), mas sem um fio condutor do princípio ao fim que tenha uma unidade espiritual e conceptual única para cada projecto, decorrente dos programas e dos lugares. É tudo demasiado... intuitivo para o meu gosto. E individual.

Falta-me aquela coisa que a universidade permite, o desenrolar dos sonhos, a criatividade e o desejo de revolucionar o mundo, no fundo uma paixão pelo que se faz. O mundo do trabalho agarra numa pessoa e ensanduicha-a numa máquina compressora para que dela saia um "técnico especializado". E é natural que todos lutemos contra isto, uma espécie de resistência rebelde ao sistema institucionalizado e opressor, mas também é natural que ao passar de algum tempo essa resistência que tem na base uma ingenuidade infantil e cheia de paixão, passe a criar fetiches e tiques de frustração ressentida, ódio pela "situação" e por quem a criou (sempre o chefe), descambando finalmente numa atitude de "função pública", a de que está tudo mal e nós não temos culpa alguma nisto, dou o meu horário e não me peçam mais, não me chateies que não te chateio, não me critiques que eu não te critico e assim ninguém é prejudicado, das 9 às 6 tenho isto e depois vou "viver".

Vou almoçar. Até já (será?)

terça-feira, junho 27, 2006

 

Holland Go Home!

Tenho estado eufórico com esta coisa do Mundial, mas o domingo último foi tão pródigo em emoções, que apenas hoje com alguma frieza mental consigo fazer uma análise daquilo que é tão comentado pela imprensa, o jogo mais violento de há décadas atrás. Repetiram-se imensas razões para o efeito: o calor sentido, a pressão, os jogadores, o árbitro, e todas razoáveis. Mas para mim, o grande orquestrador daquele desafio sem dignidade foi Van Basten.

Já antes do jogo propriamente dito, notei em Van Basten um estado de espírito diferente, estranho, quando entrou nos nossos ecrâns a elogiar Scolari. Parecia algo mais que simplesmente nervoso, ou cuidadoso nas suas palavras, o seu olhar tinha qualquer coisa de comum com um maluco. Elogiava nas palavras para que não se lhe detectassem atrás dos seus olhos o seu desprezo total pelos indígenas lusitanos que humilharam demasiadas vezes a superioridade holandesa. Não estou a exagerar. Pareceu-me cínico e mentiroso, mas foi apenas uma intuição. Durante o jogo tive a certeza: Van Basten não nutria sequer pelo adversário o suficiente respeito para jogar limpo. Viu em Cristiano Ronaldo o calcanhar de Aquiles de que necessitava para derrubar a selecção lusa, e decidiu expulsá-lo do campo, se apenas os seus homens conseguíssem irritá-lo o suficiente. Não o conseguiu expulsar mas pelo menos tirou-o do campo, definindo assim a fasquia de violência pela qual se iria travar o duelo de nações.

O problema é que Portugal não é Jesus Cristo, como diz Scolari, e a coisa lá foi descambando. (Tenho pena que logo no lance que lesionou Cristiano Ronaldo não tenha sido expulso o Holandês, poderia ter sido esse o lance chave que evitaria a escalada de violência, mas nunca o saberemos)

Senti também uma arrogância e desprezo nas faces dos holandeses, incrédulos pelo marcador nos confrontos físicos com os Portugueses. Algo me diz que foi necessário qualquer coisa muito sacana para meter o Figo fora de si daquela maneira (nunca o tinha visto assim). E depois vem o lance em que Van Basten claramente incita o seu jogador a ignorar o fair play. (deste lance ainda me recordo do sorriso malandro do Deco depois da sua falta sobre o holandês - voador). Fica-me no entanto o sentimento de que não era assim o modo como Portugal escolheria fazer o jogo. Mas foi assim que os holandeses quiseram.

Que tipo de pessoa é esta? Que mesquinho rato é este Van Basten, longe dos sucessos de grande jogador que foi, agora usando tácticas intriguistas e sabotadoras, cínicas e desprezáveis, que tipo de canalha é este que vem depois culpabilizar a selecção das quinas porque "usaram muitos truques e souberam gastar muito tempo", e que realmente "É muito mau ver o que o Figo fez."?!?, usando e abusando de uma imagem de "civilização" que a própria Holanda terá como marca para descredibilizar um povo terceiro-mundista como o nosso e esconder as suas próprias artimanhas?

"...apetece dizer:... bem feita!!" , e agora Ricardo, contra os bretões, marchar marchar!!

segunda-feira, junho 12, 2006

 

Pandemia




Novos casos de febre acentuada e delirante detectados em Oeiras, com os mesmos sintomas do Bom Sucesso. Clicar na imagem para o site oficial.

sábado, junho 03, 2006

 

Como ter sucesso em 14 passos:

1. A primeira coisa que o jovem superstar deve fazer é estagiar no estrangeiro, e quanto mais longe melhor, pois se há coisa que sabemos dos portugueses é que têm um fascínio sobre o espírito aventureiro que faz as pessoas irem para o outro lado do mundo... fazer exactamente o mesmo que se faz por aqui (mas quem precisa de saber isto?). A outra possibilidade é ingressar num atelier "superstar", cuja quantidade de mediatização deverá respeitar a relação de proporcionalidade invertida com a distância.

2. Conseguido e suado o estágio no tal atelier "superstar", nunca admitir que se fez mapa de vãos em todo o ano que por lá se esteve. Se por acaso se teve a sorte de realmente desenhar alguma coisa, nunca admitir que não se teve liberdade criativa, mas que foi uma "honra" e "prazer" trabalhar no mesmo espaço que a estrela. Dar sempre a sensação de que se falou todos os dias com a estrela, de que se imbuiu totalmente do espírito, inteligência e todos os outros elementos que fizeram do atelier escolhido um fenómeno de sucesso.

3. Regressar a Portugal com um olhar triunfante e mordaz de quem esteve com os melhores e que não se importa muito de partilhar a sua sabedoria conquistada com os indígenas.

4. Ler coisas francesas (nunca americanas!). Importante conhecer os mais ilustres, especialmente os ilegíveis (Gilles e Deleuze, por exemplo) mas mais importante ainda é descobrir coisas inéditas e desconhecidas pelos outros, e portanto exóticas. Discutir conceitos obscuros como "deslocação conceptual" ou "elementos maquínicos" em contextos não relacionados de modo a baralhar e confundir o outro, ao mesmo tempo que invoca o problema actual da descontextualização geral. Introduzir a expressão "muito interessante..." de vez em quando no discurso, fazendo com que o interlocutor, que até ali não percebeu nada (o que de algum modo diz da sua boa inteligência) se admire de quantos assuntos lhe passam ao lado por ser pouco intelectual.

5. Conseguir abrir e sedimentar um atelier economicamente. Basicamente, ter amigos com dinheiro dispostos a aturar os erros de principiante.

6. Conseguir dar estatuto arquitectónico ao atelier. Basicamente convencer as revistas de estarem perante um case-study "muito interessante" (lá vem a expressão outra vez) ou perante uma arquitectura "emergente" (que pareça responder às preocupações arquitectónicas no seu zeitgeist). O exemplo de hoje é a expressão "Bio-Climática": sucesso garantido.

7. Convencer o cliente de que a oportunidade de contribuir para a "investigação" arquitectónica é importantíssima para o sector, e que para isso é necessário uma "mente aberta" à criatividade do arquitecto, assim como é óbvio, pilim. Se o cliente perceber que não passa de uma estratégia de marketing do atelier para parecer original (e portanto "muito interessante") não importa muito, pois a sua inteligência também há de perceber que a sua casa será alvo de publicidade também, e consequente status social, último grito, é fash. (olha tenho uma casa dos Mateus! Olha e eu do Siza! Siza? Esse já está ultrapassado, pá! Quem está a dar é o Souto!)

8. Conseguindo um mercado estável de vivendazinhas para novos-ricos e de recuperaçõezinhas (também na moda) para os velhos-ricos, é altura de arriscar concorrer num concursozeco público e esperar que o vencedor não esteja já pré-escolhido. Tendo essa sorte, das duas uma: ou se vence o concurso e portanto deve-se usar o material o máximo possível para publicidade do atelier, ou se o perde, explorando ao máximo o projecto em revistas que se interessem por casos perdidos.

9. Explorar os empregados, convencendo-os de que não são realmente empregados, mas sim estagiários. Para toda a vida, se possível.

10. Dar entrevistas aos média (compostos pelos amigos). Dizer barbaridades como proclamar-se contra as vivendas porque são anti-urbanas (enquanto se fazem doze ou treze no atelier), escrever livros sobre os problemas emergentes e as belezas efémeras arquitectónicas. Falar dos franceses. Pintar quadros abstractos: ficam sempre bem e nunca se pode acusar o autor de pobreza cultural. Além de que adicionam o arquiteco ao "círculo" de artistas. Sempre conveniente.

11. Ir a conferências. O assunto deve ser o mais "emergente" possível. Depois de perceber que a platéia contém pessoas influentes, colocar questões "muito interessantes" de modo audível para que todos percebam. Não exactamente a pergunta, mas quem a fez.

12. Fazer projectos como se estivessemos no quinto ano da faculdade: oníricos. Pouco importa a sua validade e objectividade. Uso e abuso de conceitos exteriores à experiência arquitectónica como fundamentos da forma. Quanto mais bizarros e "emergentes" melhor.

13. Ganhar suficiente importância e influência política para já não necessitar de "ganhar" concursos. Isso é para wannabes. Mas se vos oferecerem concursos "virtuais", aceitem-nos, desde que seja garantida a vossa vitória no final. Apesar de tudo, as ideias alheias até poderão ser úteis de alguma maneira ao objecto final.

14. Receber prémios. Importantíssimo. Para isto é preciso estar na graça das revistas arquitectónicas durante anos e para isto é necessário garantir todos os passos 1-13 durante décadas a fio. É só para artistas! Sentem-se preparados?

terça-feira, maio 30, 2006

 

Quem queres impressionar hoje?

Professor Joaquim Braizinha numa apresentação de Doutoramento:

"...mas você está enganado, a arquitectura não é feita para as pessoas, ela é feita para os arquitectos".

segunda-feira, maio 29, 2006

 

PNPOT

Está aberta a discussão pública do Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT), disponível neste Site, e existe ainda um blog de discussão do assunto patrocinado pelo Ad Urbem.

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