sexta-feira, outubro 20, 2006
referendo à vista
Inevitável: para 2007 temos o referendo que vai acabar com a hipocrisia, o abuso ao direito das mulheres e o tipo de vexames que não se evitou em Aveiro e em Gaia. Pelo contrário, da nossa caravela avista-se ao longe terra, fértil de liberdade, igualdade e oportunidade. E riquezas, pois então. Não só se avista o fim de um opressivo pudor, como também um enorme pote ao fim do arco-íris. Está-se a falar de milhares de empregos e de o início de um negócio de milhões, agora legalizado e socialmente consentido. Não podemos ignorar os benefícios sociais e económicos.
E por estas razões há que apressar o inútil debate público. Como disse e bem alguém na rádio, nem se deveria debater os malefícios do aborto "porque toda a gente sabe que o aborto é mau", todos os pecados são maus, mas pecado não é crime. Aliás, acabe-se com toda esta inutilidade da moralidade. A própria pergunta no referendo é explícita e só não entende quem for parvo, passo a citar: "queres mudar a porra da lei ou não? Só tens duas hipóteses, ou continuas hipócrita ou assinas por baixo".
Porque não há alternativas. Oito ou oitenta. Não há verdadeira discussão pública, apenas uma campanha para a criação do maior negócio "fracturante" da medicina, campanha contínua desde a derrota de 1998. Tenho pena. Muita. Porque sempre detestei esta lei que culpabiliza as mulheres, mas abomino outra que legalize as actividades médicas de modo a rentabilizarem à custa de uma das mais dilacerantes decisões que uma mulher pode tomar. Não vejo um embrião como um parasita. Lamento. E nem me passou pela cabeça tomá-lo como tal quando me apercebi que iria ser pai, à revelia de todos os planos e possibilidades pessoais das quais me vi privado. Mas estamos entre a espada e a parede, e quem resiste é hipócrita, não se apercebe que há pessoas que têm "outros pontos de vista". Claro, é conforme os gostos. Eu gosto de amarelo e tu gostas de pensar que o feto é uma anomalia facilmente removível. Bela caixa de pandora que se abre. Arre que frustração.
Da caravela avista-se outra terra mais distante. O próximo porto de mais liberdades e oportunidades. Chamam-lhe o florescente mercado da eutanásia e do casamento de homossexuais. Abram-se as velas e deixemo-nos guiar pelo vento do progresso.