domingo, novembro 27, 2005
O Progresso
Considero-me um optimista. A minha definição de optimista é aquele que acredita que todos os obstáculos são passíveis de ultrapassar, que pensa que dado um problema de uma sociedade, havendo uma discussão nobre, atenta, responsável e criativa, a resposta conjunta obtida no final da discussão é melhor do que a soma de todas as respostas individuais que iniciaram a discussão. Acredito, ainda mais, que a melhor resposta para qualquer problema deve ser bela, porque verdadeira.
E é por isto que sou pouco tolerante a falácias argumentativas. Elas são, a meu ver, meras distracções, obstáculos artificialmente criados à frente da solução, desvios da discussão para problemas laterais e secundários. Não são, na sua maioria, desejados, nem alimentados, mas simplesmente ignorados e imperceptíveis por causa da nossa própria distracção e inexperiência retórica.
Elas advêm de um estilo de pensar, de uma cultura muito particular do pensar. Por isso é que a "diversidade" é um valor tão grande. Se um grupo não se apercebe da falácia que usa numa discussão, existe o grupo vizinho para o avisar. Por isso é que as piores de todas as falácias são aquelas que são comuns a uma generalidade de pessoas, a uma sociedade e cultura inteiras.
Uma delas, e a que hoje mais me faz perder tempo actualmente, é o argumento do "progresso". Valor que hoje define a cultura ocidental, define a evolução extraordinária dos últimos séculos, em todas as vertentes: as da imagem (moda, estilo, design, marketing), as da tecnologia (hardware, software, etc) mas também as do conteúdo, as estruturas que regemos e que nos regem (valores, regras sociais, etc).
E este é um argumento muito pernicioso, porque completamente errado, mas de um erro tão subtil que todos nós caímos nele quotidianamente. E o erro consiste em tomarmos o testemunho de um movimento evolutivo pela causa do próprio movimento evolutivo: pensarmos que o progresso existe em si como valor! O progresso não é um valor, é o processo de crescimento dos valores!
Este erro é grave porque prevê apenas uma única resposta: em frente. Não admite recuos nem paragens, não admite pausas para reflexão. Se em determinada questão a história tem vindo a seguir determinada direcção e sentido, o "progresso" indica a direcção imediata e acerebralmente: é uma "inevitabilidade histórica"! Quem ficar para trás, é "obsoleto", medindo-se tal designação não pela veracidade ou adequação dos seus valores, mas pela idade dos mesmos. Imagine-se o resultado de uma sociedade que apenas pensasse desta maneira: um frenesi de vectores todos a apontar para o seu lado e a seguir "em frente", desmembrando-se até ao infinito...
E para que não pensem que estou a delirar, apresento aqui um exemplo recente, a propósito da polémica dos homossexuais proibidos na ordenação de padres na Igreja. É uma referência incontornável do erro crasso que expliquei atrás. Cito a "ILGA":
"Julgamos que se trata de mais um erro histórico, numa longa história com bastantes erros da Igreja Católica Apostólica Romana, num momento em que, precisamente, as outras igrejas, mostram uma boa filosofia de inclusão, nomeadamente, a Igreja Anglicana e recentemente na Igreja Sueca, que, inclusivamente põe a hipótese de abençoar as uniões entre as pessoas do mesmo sexo"
Primeiro define-se a direcção: "mais um erro histórico da Igreja, numa longa história...", ou seja, é tradição e definição evolutiva da Igreja errar "historicamente", e por isso inevitável que ela fizesse mais este (não se está aqui a argumentar o erro, mas sim a sua inevitabilidade histórica e portanto a sua demonstração automática). Depois mostra-se o exemplo de quem foi "bom aluno" do progresso e o aceitou no seu leito, com uma "boa filosofia de inclusão".
Compreendo a polémica e acho que é uma boa oportunidade para discussão. Mas fora com este tipo de argumentos, pois são falsos. Apenas admitem um lado "certo" que é o lado cego do progresso. Faz-nos lembrar o comentário do Sócrates sobre Mário Soares: "Esteve sempre do lado CERTO da História" (sério? quem disse? e qual é o "errado" já agora?)
Estou totalmente de acordo com o Bernardo da Motta, do Afixe:
o aborto livre é "progresso", o sacerdócio para os gays e lésbicas é "progresso", a manipulação genética de embriões humanos é "progresso", o abandono de uma religião é "progresso". Admirável mundo novo, este que se aproxima, hã?
Deixemo-nos de tretas, e passemo-nos a tratar uns aos outros com mais respeito! Perguntemo-nos de facto sobre as matérias em questão com os valores em causa, questionemos o futuro que queremos seguir e os valores que queremos semear e cultivar.
Se for preciso parar, porque não? Se for preciso recuar, porque não? Porquê manter os erros se os reconhecermos? E quando pensarmos em todos estes valores e vivermos intensamente o presente na resolução dos problemas de um modo optimista e esperançoso, quando compreendermos que temos de nos ouvir uns aos outros e não a uma voz distante que grita progresso em tudo o que é lado...
Talvez assim... haja progresso!
E é por isto que sou pouco tolerante a falácias argumentativas. Elas são, a meu ver, meras distracções, obstáculos artificialmente criados à frente da solução, desvios da discussão para problemas laterais e secundários. Não são, na sua maioria, desejados, nem alimentados, mas simplesmente ignorados e imperceptíveis por causa da nossa própria distracção e inexperiência retórica.
Elas advêm de um estilo de pensar, de uma cultura muito particular do pensar. Por isso é que a "diversidade" é um valor tão grande. Se um grupo não se apercebe da falácia que usa numa discussão, existe o grupo vizinho para o avisar. Por isso é que as piores de todas as falácias são aquelas que são comuns a uma generalidade de pessoas, a uma sociedade e cultura inteiras.
Uma delas, e a que hoje mais me faz perder tempo actualmente, é o argumento do "progresso". Valor que hoje define a cultura ocidental, define a evolução extraordinária dos últimos séculos, em todas as vertentes: as da imagem (moda, estilo, design, marketing), as da tecnologia (hardware, software, etc) mas também as do conteúdo, as estruturas que regemos e que nos regem (valores, regras sociais, etc).
E este é um argumento muito pernicioso, porque completamente errado, mas de um erro tão subtil que todos nós caímos nele quotidianamente. E o erro consiste em tomarmos o testemunho de um movimento evolutivo pela causa do próprio movimento evolutivo: pensarmos que o progresso existe em si como valor! O progresso não é um valor, é o processo de crescimento dos valores!
Este erro é grave porque prevê apenas uma única resposta: em frente. Não admite recuos nem paragens, não admite pausas para reflexão. Se em determinada questão a história tem vindo a seguir determinada direcção e sentido, o "progresso" indica a direcção imediata e acerebralmente: é uma "inevitabilidade histórica"! Quem ficar para trás, é "obsoleto", medindo-se tal designação não pela veracidade ou adequação dos seus valores, mas pela idade dos mesmos. Imagine-se o resultado de uma sociedade que apenas pensasse desta maneira: um frenesi de vectores todos a apontar para o seu lado e a seguir "em frente", desmembrando-se até ao infinito...
E para que não pensem que estou a delirar, apresento aqui um exemplo recente, a propósito da polémica dos homossexuais proibidos na ordenação de padres na Igreja. É uma referência incontornável do erro crasso que expliquei atrás. Cito a "ILGA":
"Julgamos que se trata de mais um erro histórico, numa longa história com bastantes erros da Igreja Católica Apostólica Romana, num momento em que, precisamente, as outras igrejas, mostram uma boa filosofia de inclusão, nomeadamente, a Igreja Anglicana e recentemente na Igreja Sueca, que, inclusivamente põe a hipótese de abençoar as uniões entre as pessoas do mesmo sexo"
Primeiro define-se a direcção: "mais um erro histórico da Igreja, numa longa história...", ou seja, é tradição e definição evolutiva da Igreja errar "historicamente", e por isso inevitável que ela fizesse mais este (não se está aqui a argumentar o erro, mas sim a sua inevitabilidade histórica e portanto a sua demonstração automática). Depois mostra-se o exemplo de quem foi "bom aluno" do progresso e o aceitou no seu leito, com uma "boa filosofia de inclusão".
Compreendo a polémica e acho que é uma boa oportunidade para discussão. Mas fora com este tipo de argumentos, pois são falsos. Apenas admitem um lado "certo" que é o lado cego do progresso. Faz-nos lembrar o comentário do Sócrates sobre Mário Soares: "Esteve sempre do lado CERTO da História" (sério? quem disse? e qual é o "errado" já agora?)
Estou totalmente de acordo com o Bernardo da Motta, do Afixe:
o aborto livre é "progresso", o sacerdócio para os gays e lésbicas é "progresso", a manipulação genética de embriões humanos é "progresso", o abandono de uma religião é "progresso". Admirável mundo novo, este que se aproxima, hã?
Deixemo-nos de tretas, e passemo-nos a tratar uns aos outros com mais respeito! Perguntemo-nos de facto sobre as matérias em questão com os valores em causa, questionemos o futuro que queremos seguir e os valores que queremos semear e cultivar.
Se for preciso parar, porque não? Se for preciso recuar, porque não? Porquê manter os erros se os reconhecermos? E quando pensarmos em todos estes valores e vivermos intensamente o presente na resolução dos problemas de um modo optimista e esperançoso, quando compreendermos que temos de nos ouvir uns aos outros e não a uma voz distante que grita progresso em tudo o que é lado...
Talvez assim... haja progresso!
O terramoto de 1755,
segundo novos dados históricos, era gay.
visto na revista Única
visto na revista Única
quarta-feira, novembro 23, 2005
Na mouche
Henrique Raposo fala desta coisa do Pós-Modernismo. E eu digo: touché.
segunda-feira, novembro 21, 2005
Mammatus...
"Estas nuvens são verdadeiras. Inacreditável!
Jorn Olsen trabalha para a Companhia Dutton-Lainson em Hastings, Nebraska, e mora perto do Parque Hartwell, ao lado do Hastings College. Numa noite, provavelmente depois da uma forte tempestade, ele tirou estas fotos e enviou-as à Universidade de Nebraska, que as colocou no link abaixo. Os postes de luz são do Estádio do College, a leste da casa do fotógrafo. Esse tipo de nuvem se chama Mammatus e há um link no site que fala sobre elas (em inglês). Elas não antecedem um tornado ou indicam tempestade. São formadas quando o ar já está saturado de gotículas de chuva ou cristais de gelo, e começa a "afundar". O pior da tempestade geralmente já passou quando este tipo de nuvem aparece. São bastante raras e belíssimas."
quinta-feira, novembro 17, 2005
Descobri um poeta
Conhecia-o há tantos anos já, mas vejo agora que o conhecer tem níveis tantos que magoa saber a superficialidade que se mantém durante tanto tempo. Magoa pelo vazio sentido, pela oportunidade perdida (mas qual oportunidade? O vazio de sentido, o que poderia ter sido, o paraíso que falhou a terra). Capas e Fachadas, ou imagens escolhidas, ou porventura até somos realmente quem projectamos aos outros. Isto sobre a vida não sei. Mas sei que encontrei um poeta onde não esperava.
quarta-feira, novembro 16, 2005
Espelho Saudosista II
Arrumos de sótão continuam e descobertas igualmente, este um auto-retrato que sempre gostei muito, pela unicidade do uso do cubismo nos meus trabalhos (nunca tinha usado, nunca mais usei). Feito aquando de um estudo teórico sobre o cubismo de Picasso, Bracque e Le Corbusier.
Espelho saudosista I
Arrumos de Sótão, excertos de arte, produtos de febres maleitas antigas... apreciem o penteado! (Sim, é verdade, sou eu!)
Diálogos compulsivos I
- Tive uma óptima ideia, Mencapto!
- O quê Pouços?
- O nosso blog agora já vai ser um blog digno de nome!
- Mas não era já?...
- Claro que não, pois se faltava uma lista de blogs que visitamos regularmente! Vamos escrever uma e passamos ao activo! Milhares de leitores vão passar a ler o nosso Blog, embasbacados que ficarão com as nossas preferências e ligações!
- Mas tu acreditas mesmo nisso, és assim tão ingénuo?
- Acredito no quê?
- Que por exemplo o Afixe, blog notabilíssimo da nossa blogosfera, possuíndo oitenta e quatro links de referências de blogs, os seus autores são ávidos leitores de tamanha variedade? Ou que o nosso amigo Daniel Carrapa usa realmente as centenas de links que mostra ali?
- Atão mas porque outra razão haveriam de ter tais links?
- Ora pra mostrarem aos outros o quão cultos são, Pouços.
- Népias. Isso é que não, pois se são tão inteligentes e com humor tão sincero...
- És mesmo ingénuo.
- Ora, mas pode ser para que nós nos apercebamos da imensidade da nossa blogosfera. Ter o mundo à distância de um clique!
- Pois, mas em exercícios de revanchismo egocêntrico não entro eu! Mania de seguir a onda! Já viste por acaso se o Abrupto tem alguma lista?
- Então como queres fazer?
- Ponhamos alguns links, mas apenas aqueles cujos nossos olhos repousam com deleite e permanência.
- É pena, vai soar a curta.
- Poucos mas bons!
- Se o dizes, mas ao menos façamo-lo segundo as regras da blogosfera
- Quais regras?
- Ora, listá-las alfabeticamente.
- Arre, tou lixado contigo, Pouços...
- O quê Pouços?
- O nosso blog agora já vai ser um blog digno de nome!
- Mas não era já?...
- Claro que não, pois se faltava uma lista de blogs que visitamos regularmente! Vamos escrever uma e passamos ao activo! Milhares de leitores vão passar a ler o nosso Blog, embasbacados que ficarão com as nossas preferências e ligações!
- Mas tu acreditas mesmo nisso, és assim tão ingénuo?
- Acredito no quê?
- Que por exemplo o Afixe, blog notabilíssimo da nossa blogosfera, possuíndo oitenta e quatro links de referências de blogs, os seus autores são ávidos leitores de tamanha variedade? Ou que o nosso amigo Daniel Carrapa usa realmente as centenas de links que mostra ali?
- Atão mas porque outra razão haveriam de ter tais links?
- Ora pra mostrarem aos outros o quão cultos são, Pouços.
- Népias. Isso é que não, pois se são tão inteligentes e com humor tão sincero...
- És mesmo ingénuo.
- Ora, mas pode ser para que nós nos apercebamos da imensidade da nossa blogosfera. Ter o mundo à distância de um clique!
- Pois, mas em exercícios de revanchismo egocêntrico não entro eu! Mania de seguir a onda! Já viste por acaso se o Abrupto tem alguma lista?
- Então como queres fazer?
- Ponhamos alguns links, mas apenas aqueles cujos nossos olhos repousam com deleite e permanência.
- É pena, vai soar a curta.
- Poucos mas bons!
- Se o dizes, mas ao menos façamo-lo segundo as regras da blogosfera
- Quais regras?
- Ora, listá-las alfabeticamente.
- Arre, tou lixado contigo, Pouços...
segunda-feira, novembro 14, 2005
Autismo absoluto
Pé de guerra, grito de guerra: o arquitecto já não faz arquitectura!
"Indeed, perhaps it is already losing its name, perhaps architecture is already becoming foreign to its name." (Derrida, 1991).
Limitado no tempo e na pesquisa errada e simplista, proveniente das revistazecas que afundam o leitor em todas as livrarias e papelarias, o arquitecto hoje faz um copy-paste de todas aquelas coisas que o agradam, agarrando-se ao máximo a todos os clichés arquitectónicos em voga e em moda. Falo claro não só dos clichés formais (como a "dobra", a "caixa", e restantes artifícios puramente abstractos e não arquitectónicos em si encontrados ao calhas em supostas arquitecturas... nas revistas) como também dos clichés textuais em que se incluem os chavões em voga (ambiente, sustentabilidade, flexibilidade, etc, etc), como uma espécie de add-ups colados a um projecto revestido com materiais e soluções também eles não fora dos tempos. O resultante não é uma linguagem, é um absurdo.
Dizer hoje que a arquitectura deve ser património dos "arquitectos" nos mesmos instantes em que se ouve José Mateus a justificar uma casa com argumentos completamente exteriores à disciplina da arquitectura - e se me eram ridículos a mim que tenho a formação de arquitecto, imagino a reacção de um leigo - , é como dar o poder de um país a um poeta (sem insinuações!). É cair no autismo absoluto de "cada um na sua especialidade", desculpa impressionante para cada qual fazer a bizarria mais espantosa - e irracional, irresponsável, etc - que lhe vier à cabeça! Viveremos no sonho dadaísta?
Pior ainda só quando nos avisam de que a arquitectura deve ser "multi-disciplinar" e conter toda a parafernália de especializações sub-arquitectónicas e que o arquitecto deve convergir para a satisfação de todas elas. Arquitectura tipo sistema de filmes-Hollywood, em que não mais o arquitecto é líder de coisa alguma e o resultado se for algo mais do que nada, é sorte! O autismo resultante é diferente na expressão, mas igualmente monstruoso: um pelo seu autismo infantil surrealista, outro pelo autismo humano denominado "funcionalismo".
Como exemplo da total discrepância entre o arquitecto e a realidade que o cerca (que decorre de certeza absoluta do modo como trabalha - sobre o papel ou dwg e não sobre o edifício) tenho aqui uma magnífica obra de arte apresentada na bienal de veneza do ano passado - 2004 - e clicando na imagem há de se encontrar muitas mais "coisas" engraçadas... A questão que coloco é simples: o arquitecto é Arquitecto ou passou a ser encenador de filmes de ficção científica? Depois queiram ser respeitados (se nem sequer respeitam a sociedade...!) Ou talvez um mero técnico de linhas vectoriais CAD ao serviço de artistas compulsivos - bébés que nunca chegaram a crescer?
terça-feira, novembro 08, 2005
In the Pirkinning
Deparei-me no outro dia com uma pequena maravilha da auto-iniciativa, humildade e devocação extrema e sensibilidade humorística como até há bem algum tempo não testemunhava.
Falo de uma personagem Finlandesa que, fã de ficção científica desde a sua idade de puto, e em especial de Star Trek's e Babylon 5's , vai já em mais de dez filmes caseiros completamente inventados por si próprio. Enquanto que os primeiros fazem lembrar as animações do Spectrum 48, os seguintes vão enriquecendo na sua forma e técnica à medida que Samuli Torssonen - o autor - vem crescendo na puberdade.
No penúltimo, Samuli, que conta já com uma plêiade de amigos que o seguem nas suas aventuras cinéfilas, introduz uma revolução nos seus filmes: o ecran azul e os cenários virtuais. Aqui mostro-vos, porque o merece, o seu último produto: Star Wreck: In The Pirkinning, uma sátira tanto a Star Trek como a Babylon 5, onde James T. Pirk, o herói interpretado pelo próprio Samuli enfrenta num combate sem tréguas o comandante Sherrypie da estação Babel 13. Convido o atento leitor a assistir, com queixo caído ou olhos esbugalhados à discrição o que um orçamento realmente a zero, (gastando-se os mínimos nos uniformes e nos próprios computadores...), actores completamente principiantes (o que se denota claramente) e uma personalidade ingénua e infantil mas com uma preserverança estóica de ver o seu sonho realizado consegue realmente fazer!
Imagine-se o leitor, apenas com um desejo e a formalizá-lo desta maneira! Eu não me imagino, bem entendido! No entanto, assiste-se de certeza absoluta a um fenómeno novo: a democratização em massa da produção e realização de cinema! Ou pelo menos o seu potencial...
Bem, clique aqui e divirta-se, pois pelo menos merece um grande sorriso este esforço estupendo e simples: http://www-fi3.starwreck.com/index.php
Abraços
domingo, novembro 06, 2005
O embuste da arquitectura
Olá caro leitor. Sei que és raro e possivelmente até um só, um espelho meu, mas dedicar-me-ei a ti independentemente do número que fores. Não te proponho para seres o meu diário que para isso não tenho pachorra, mas confio-te os meus pensamentos mais pessoais e bizarros, não tanto os íntimos que não são para aqui chamados.
Encontro-me neste momento num dos momentos porventura mais vazios da minha vida. Com um estágio em suposta busca, e uma cadeira chatérrima para concluir, apetece-me apenas dormir. E no entanto, seria suposto que um aluno que acaba de tirar um 17 a projecto de quinto ano começasse a vida à maior velocidade possível. Este começo de ano foi-me tão imprevisto quanto insípido.
No entanto tenho algumas entrevistas marcadas, o que me faz questionar não só o tipo de perguntas que me farão, mas sobretudo, o que irei eu responder? Com tão pouca actividade mental (e física) na arquitectura, tenho algum medo de as minhas convicções arquitectónicas se decaírem num descrédito e enfado, e pior, que tal se note. Neste espaço propunha-me ensaiar tais perguntas e tais respostas, se mo permitires, meu caro.
Bem, começo por dizer que adoraria que me perguntassem "o que entendes por Arquitectura", nada mais filosófico e vazio do que semelhante pergunta, na qual poderia levar a cabo toda a minha desenvoltura retórica. O meu único medo seria que em tal momento tão esperado em toda a minha vida desde o curso (que me fizessem tal pergunta "final"), me surgisse um pensamento mais cruel e sarcástico de gozar com tamanha efemeridade, respondendo que é "uma profissão que goza de bastante prestígio social, chique por assim dizer, de bom dinheiro e mesmo que não, pelo menos uma óptima dica para engatar gajas de algum gabarito, no mínimo tamanho 42b."
Ora, sendo que outra alternativa pouco aconselhável seria replicar que tal pergunta é "demasiado retórica", negando-me condignamente a responder, (usando semelhante critério para todas as perguntas que achar difíceis de responder - no fundo todas as que pedirem mais do que um "sim" ou um "não"), a solução teria de passar por uma boa síntese da confusão que reina na minha cabeça. Mas para isso tenho de passar primeiro por um "brainwash", e tu, caro leitor, és a minha cobaia de tal experiência, até te fartares claro está.
Arquitectura, Arché (αρχή = primeiro ou principal) e tékton (τέχνη = construção)
"Arquitectura é a arte de construir o meio ambiente habitável." Esta "arte" define todo o processo construtivo que é encabeçado pelo arquitecto, e define-se por uma mestria na organização espacial, funcional, estética, social, territorial (urbana ou rural) e até construtiva do chamado objecto arquitectónico.
No entanto, não é somente uma técnica apurada por um técnico. Aquilo que mais chateia o pessoal não-arquitecto é a componente dita "estética" da arquitectura, que parece merecer mais tempo perdido para o arquitecto do que propriamente o seu "verdadeiro trabalho, que são as plantas, as maquetes e os cortes". Mas porquê? Não é melhor vivermos num ambiente mais belo do que Massamá ou do que o Cacém? Precisamente porque o gosto está em questão. Numa ânsia da arte arquitectónica estar a par das outras "artes", a experiência modernista e pós-modernista continua em grande forma e, pior que isso, deixa um rasto de mesquinhices de desenho para trás da "crista da onda" nefasta e prejudicadora para a imagem social da profissão.
O problema reside, como é óbvio para mim, na distinção forçada entre o "Belo" e o "Verdadeiro", ou seja, entre a coisa real, verdadeira e a coisa bela, estética. Anteriormente unas, a Arte era simultaneamente verdadeira e bela (ou a isso aspirava). A dado momento da História, a experiência estética faz a sua rebelião contra a demagogia de quem "possui" a verdade (a religião, o poder conservador) e insurge-se até contra ela!, criando uma guerra de valores conhecida entre nós de Iluminismo e mais tarde Modernismo. A Estética deixa de ser um instrumento da Verdade (para comunicar a verdade) para passar a ser um instrumento para descobrir a Verdade (eternamente escondida, eternamente em redefinição, um mito para todo o sempre).
Com Einstein, vejo que as pessoas interpretaram (e mal) a sua ciência na arte e na arquitectura ao aclamarem a rebelião total: não há verdade absoluta, cada um à sua verdade e à sua arte. A arte deixa de ser, como também já cheguei a escrever, expressão de um povo e da sua aspiração à verdade de um modo social e comum - em que cada um revela como vê a verdade comum com o seu temperamento particular, para se tornar expressão fragmentada e individual - em que cada um fala da sua verdade particular.
As características discursivas e dialogantes da arte subvertem-se e trocam de lugares! Hoje, o grande crítico de arte, o consumidor-tipo de arte não é cristão nem ateu, é agnóstico e tanto aceita todos os pontos de vista em geral como nenhuns em particular, aceita-os como os pontos de vista dos outros. Ora para que tal pessoa se possa rever numa arte, só existe uma maneira: a de criar a sua. Numa sociedade de milhões, tantos milhões de artistas: a democratização em massa da arte - a nivelação total da arte. Qual Dalí, qual Picasso qual quê! Eu, EU faria não só tão bem, como até nunca faria TÃO MAL! (a minha visão, única como é, será sempre melhor que as restantes, pois é a minha...)
A arte está então a fragmentar-se totalmente. Para quê um arquitecto então? Ora precisamente a questão volta a fechar-se num círculo. É que sem uma visão comum a todos, ou a uma maioria, qual é a relevância do seu desenho para a sociedade em geral? E não só isto me parece como verdade (eu que acredito numa verdade superior e independente da "minha"), como também vejo a sua consequência natural e simples: o corporativismo do que é "arte", que deixando de ter significado apoiado em algo fora de si - l'art pour l'art - passa a valer pelas premissas e valores da elite arquitectónica que comanda a onda. A arquitectura transforma-se numa moda, o ambiente habitado transforma-se numa moda - ou seja - todos os valores estéticos pelos quais se regem a qualidade estética do nosso meio ambiente artificial são tendencialmente arbitrários e obrigatórios!
Mas dado que definimos o embuste da arquitectura presente, como definir o que é eterno na arquitectura? Fica para a próxima caro leitor, que já me enfado de pesar os meus dedos neste teclado tão duro!!
Abraços
Encontro-me neste momento num dos momentos porventura mais vazios da minha vida. Com um estágio em suposta busca, e uma cadeira chatérrima para concluir, apetece-me apenas dormir. E no entanto, seria suposto que um aluno que acaba de tirar um 17 a projecto de quinto ano começasse a vida à maior velocidade possível. Este começo de ano foi-me tão imprevisto quanto insípido.
No entanto tenho algumas entrevistas marcadas, o que me faz questionar não só o tipo de perguntas que me farão, mas sobretudo, o que irei eu responder? Com tão pouca actividade mental (e física) na arquitectura, tenho algum medo de as minhas convicções arquitectónicas se decaírem num descrédito e enfado, e pior, que tal se note. Neste espaço propunha-me ensaiar tais perguntas e tais respostas, se mo permitires, meu caro.
Bem, começo por dizer que adoraria que me perguntassem "o que entendes por Arquitectura", nada mais filosófico e vazio do que semelhante pergunta, na qual poderia levar a cabo toda a minha desenvoltura retórica. O meu único medo seria que em tal momento tão esperado em toda a minha vida desde o curso (que me fizessem tal pergunta "final"), me surgisse um pensamento mais cruel e sarcástico de gozar com tamanha efemeridade, respondendo que é "uma profissão que goza de bastante prestígio social, chique por assim dizer, de bom dinheiro e mesmo que não, pelo menos uma óptima dica para engatar gajas de algum gabarito, no mínimo tamanho 42b."
Ora, sendo que outra alternativa pouco aconselhável seria replicar que tal pergunta é "demasiado retórica", negando-me condignamente a responder, (usando semelhante critério para todas as perguntas que achar difíceis de responder - no fundo todas as que pedirem mais do que um "sim" ou um "não"), a solução teria de passar por uma boa síntese da confusão que reina na minha cabeça. Mas para isso tenho de passar primeiro por um "brainwash", e tu, caro leitor, és a minha cobaia de tal experiência, até te fartares claro está.
Arquitectura, Arché (αρχή = primeiro ou principal) e tékton (τέχνη = construção)
"Arquitectura é a arte de construir o meio ambiente habitável." Esta "arte" define todo o processo construtivo que é encabeçado pelo arquitecto, e define-se por uma mestria na organização espacial, funcional, estética, social, territorial (urbana ou rural) e até construtiva do chamado objecto arquitectónico.
No entanto, não é somente uma técnica apurada por um técnico. Aquilo que mais chateia o pessoal não-arquitecto é a componente dita "estética" da arquitectura, que parece merecer mais tempo perdido para o arquitecto do que propriamente o seu "verdadeiro trabalho, que são as plantas, as maquetes e os cortes". Mas porquê? Não é melhor vivermos num ambiente mais belo do que Massamá ou do que o Cacém? Precisamente porque o gosto está em questão. Numa ânsia da arte arquitectónica estar a par das outras "artes", a experiência modernista e pós-modernista continua em grande forma e, pior que isso, deixa um rasto de mesquinhices de desenho para trás da "crista da onda" nefasta e prejudicadora para a imagem social da profissão.
O problema reside, como é óbvio para mim, na distinção forçada entre o "Belo" e o "Verdadeiro", ou seja, entre a coisa real, verdadeira e a coisa bela, estética. Anteriormente unas, a Arte era simultaneamente verdadeira e bela (ou a isso aspirava). A dado momento da História, a experiência estética faz a sua rebelião contra a demagogia de quem "possui" a verdade (a religião, o poder conservador) e insurge-se até contra ela!, criando uma guerra de valores conhecida entre nós de Iluminismo e mais tarde Modernismo. A Estética deixa de ser um instrumento da Verdade (para comunicar a verdade) para passar a ser um instrumento para descobrir a Verdade (eternamente escondida, eternamente em redefinição, um mito para todo o sempre).
Com Einstein, vejo que as pessoas interpretaram (e mal) a sua ciência na arte e na arquitectura ao aclamarem a rebelião total: não há verdade absoluta, cada um à sua verdade e à sua arte. A arte deixa de ser, como também já cheguei a escrever, expressão de um povo e da sua aspiração à verdade de um modo social e comum - em que cada um revela como vê a verdade comum com o seu temperamento particular, para se tornar expressão fragmentada e individual - em que cada um fala da sua verdade particular.
As características discursivas e dialogantes da arte subvertem-se e trocam de lugares! Hoje, o grande crítico de arte, o consumidor-tipo de arte não é cristão nem ateu, é agnóstico e tanto aceita todos os pontos de vista em geral como nenhuns em particular, aceita-os como os pontos de vista dos outros. Ora para que tal pessoa se possa rever numa arte, só existe uma maneira: a de criar a sua. Numa sociedade de milhões, tantos milhões de artistas: a democratização em massa da arte - a nivelação total da arte. Qual Dalí, qual Picasso qual quê! Eu, EU faria não só tão bem, como até nunca faria TÃO MAL! (a minha visão, única como é, será sempre melhor que as restantes, pois é a minha...)
A arte está então a fragmentar-se totalmente. Para quê um arquitecto então? Ora precisamente a questão volta a fechar-se num círculo. É que sem uma visão comum a todos, ou a uma maioria, qual é a relevância do seu desenho para a sociedade em geral? E não só isto me parece como verdade (eu que acredito numa verdade superior e independente da "minha"), como também vejo a sua consequência natural e simples: o corporativismo do que é "arte", que deixando de ter significado apoiado em algo fora de si - l'art pour l'art - passa a valer pelas premissas e valores da elite arquitectónica que comanda a onda. A arquitectura transforma-se numa moda, o ambiente habitado transforma-se numa moda - ou seja - todos os valores estéticos pelos quais se regem a qualidade estética do nosso meio ambiente artificial são tendencialmente arbitrários e obrigatórios!
Mas dado que definimos o embuste da arquitectura presente, como definir o que é eterno na arquitectura? Fica para a próxima caro leitor, que já me enfado de pesar os meus dedos neste teclado tão duro!!
Abraços