segunda-feira, novembro 14, 2005

 

Autismo absoluto















Pé de guerra, grito de guerra: o arquitecto já não faz arquitectura!

"Indeed, perhaps it is already losing its name, perhaps architecture is already becoming foreign to its name." (Derrida, 1991).

Limitado no tempo e na pesquisa errada e simplista, proveniente das revistazecas que afundam o leitor em todas as livrarias e papelarias, o arquitecto hoje faz um copy-paste de todas aquelas coisas que o agradam, agarrando-se ao máximo a todos os clichés arquitectónicos em voga e em moda. Falo claro não só dos clichés formais (como a "dobra", a "caixa", e restantes artifícios puramente abstractos e não arquitectónicos em si encontrados ao calhas em supostas arquitecturas... nas revistas) como também dos clichés textuais em que se incluem os chavões em voga (ambiente, sustentabilidade, flexibilidade, etc, etc), como uma espécie de add-ups colados a um projecto revestido com materiais e soluções também eles não fora dos tempos. O resultante não é uma linguagem, é um absurdo.

Dizer hoje que a arquitectura deve ser património dos "arquitectos" nos mesmos instantes em que se ouve José Mateus a justificar uma casa com argumentos completamente exteriores à disciplina da arquitectura - e se me eram ridículos a mim que tenho a formação de arquitecto, imagino a reacção de um leigo - , é como dar o poder de um país a um poeta (sem insinuações!). É cair no autismo absoluto de "cada um na sua especialidade", desculpa impressionante para cada qual fazer a bizarria mais espantosa - e irracional, irresponsável, etc - que lhe vier à cabeça! Viveremos no sonho dadaísta?

Pior ainda só quando nos avisam de que a arquitectura deve ser "multi-disciplinar" e conter toda a parafernália de especializações sub-arquitectónicas e que o arquitecto deve convergir para a satisfação de todas elas. Arquitectura tipo sistema de filmes-Hollywood, em que não mais o arquitecto é líder de coisa alguma e o resultado se for algo mais do que nada, é sorte! O autismo resultante é diferente na expressão, mas igualmente monstruoso: um pelo seu autismo infantil surrealista, outro pelo autismo humano denominado "funcionalismo".

Como exemplo da total discrepância entre o arquitecto e a realidade que o cerca (que decorre de certeza absoluta do modo como trabalha - sobre o papel ou dwg e não sobre o edifício) tenho aqui uma magnífica obra de arte apresentada na bienal de veneza do ano passado - 2004 - e clicando na imagem há de se encontrar muitas mais "coisas" engraçadas... A questão que coloco é simples: o arquitecto é Arquitecto ou passou a ser encenador de filmes de ficção científica? Depois queiram ser respeitados (se nem sequer respeitam a sociedade...!) Ou talvez um mero técnico de linhas vectoriais CAD ao serviço de artistas compulsivos - bébés que nunca chegaram a crescer?

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