terça-feira, junho 21, 2005

 

Sobre a Propaganda - pequeno comentário

Num post aí já um pouco em baixo, afirmas ptolomeu que não sou propangandista, mas eu penso de modo diferente. Acho que a escrita, especialmente se formatada num pequeno post como estes são têm a tendência de se tornar numa pequena prosa coerente dentro de si própria, uma construção estética precisa que pode muito bem descambar em propagandas.

O objectivo não é contudo o propagandear uma mensagem como se ela fosse a salvação mundial. O importante é provocar um debate interior na mente do leitor. Uma convulsão e uma repulsa gerada pela agressividade do que está escrito. Esta repulsa vai criar. Criar uma reacção. Esta, para ser inteligente e descobrir o ponto que desmorona todo o pequeno edifício que é cada pequena "propaganda", terá de se contorcer sobre ela própria e olhar a carne do que somos feitos. Quanto mais perto do osso e da própria espinha nervosa conseguirmos escavar, maior o esforço, maior a contorção, mais longe conseguimos ir.

É que, qualquer sábio o sabe, não basta dizer como o outro: "não sei para onde vou, mas sei que não vou por aí". É preciso saber porquê. (e até onde ele vai, esse porquê!!)

segunda-feira, junho 20, 2005

 

Ensaio do Fado

A malfadada tradição que nos assombra desde há muito e que durante a década que se iniciou com Soares e terminou com Guterres quase parecia caduca, volta à carga e anuncia-se como desperta de um breve descanso para regressar ao nosso tormento.

Falo como é óbvio da cultura do Fado. Não há como enganar: este é o espírito português profundo no seu pico de graciosidade estética máxima, enquanto não se diverte com a pimbalhada vulgar e quotidiana. José Gil tenta descrever o Português como aquele que tem medo do próximo e lhe dificulta a vida, construíndo um sistema à sua volta conivente com a sua vulgarização. E não há nada como o fado para explicar a sua origem.

Mas desengane-se o caro leitor sobre a opressão obrigatória sobre o português: a tragédia com que o português se depara quotidianamente e com o cognome de "sistema" não lhe é imposta: é-lhe essencial para se definir. Ópio que une as massas e lhes dá identidade plural, vaca sagrada da sociedade. Assim sendo, ai de quem lhe retire este drama no qual ele se encontra, seria como retirar-lhe um tapete por debaixo dos seus pés.

Neste sentido, a pausa fadista do tempo cavaquista é perturbante, não faz sentido. Portugal "o bom aluno da europa" estava simplesmente fora de si, enganava-se a ele próprio e fazia-se de quem não era. Tenho de agradecer a Guterres, que compreendendo plenamente a angústia portuguesa de não se rever nas novelas que via todos os dias à noite, lhe devolveu o fado ao criar uma bola de consumismo insustentável e rapidamente implodida. Graças à política portuguesa, os bons velhos costumes lusitanos voltam à sua nação, e a pátria revê-se na identidade recuperada do pessimismo geral e do suspiro religioso galopante. A tristeza voltou, graças a Deus.

É com esperança, uma esperança esta genuína pois baseada na nossa própria identidade, que antevejo uma era de grande tristeza e dor, de desesperança e drama novelesca (brasileira que a nossa ainda peca na sua qualidade) que desde sempre suscitou no mais profundo português o fruto da genialidade criativa e artística do fado!

Resumindo, não é Luís Vaz de Camões o maior português de todos os tempos, mas sim Vasco Pulido Valente.
Ai o faaaaado!!!....

quinta-feira, junho 02, 2005

 

A Tradição da Revolução!

Já é famosa a frase do nosso professor Pedro Abreu quando começa "apenas pela Tradição..."

... o problema começa precisamente aí. Acreditando nele e começando a fazer de modo "tradicional" deparamo-nos com um problema: a nossa tradição é revolucionária!! Senão vejamos: na Renascença uns tipos armados em iluminárias descobriram a perspectiva e outros umas ruínas romanas, outros ainda um discurso perdido de Vitrúvio. Resultado: Revolução! Não mais o Gótico, não mais o mito medieval, venha outro mito, o mito mais calmo e harmonioso do Clássico. Chame-se à Idade Média a Idade das Trevas e ponha-se um ponto final no assunto.

E a partir daqui não descansámos mais: descontentes com o Classicismo Harmonioso da Renascença, afinal aquela não era bem a representação mais verdadeira do mundo se bem que harmoniosa, com a mesma desenvoltura com que se atirou a Idade Média para o baú das más recordações, os génios como Miguel Ângelo descobriram outras "Maneiras" de se fazer arte, dando origem ao Maneirismo e ao Barroco. Venha o Movimento, o Drama, a Tragédia, o Horror. Venha o Deslumbramento e a Contra-Reforma (que se opunha à "Reforma", resultado lógico do Renascimento). O Barroco pouco mais tempo durou (sendo que o seu grande legado, quanto a mim, não foi a Arquitectura, demasiado "instável", mas sim a sua música) dando lugar ao Rococó e a todo um percurso Exótico formal de revoluções e contra-revoluções (Neo-revivalismos) até ao ponto final: o silêncio modernista (revolução marxista arquitectónica por excelência).

Há trinta anos, veio o Contra-Modernismo (mais designado por Pós-Modernismo) e lança a humanidade noutra revolução como alguns dos seus inspiradores disseram: "a única maneira de sermos modernistas é fazer ao Modernismo o que ele fez à Arte Antiga!!"

Pois então tudo muda para continuar no mesmo. E a França, bastante enraizada e conhecedora deste processo revolucionário (desde a Revolução Francesa, que foi o maior logro de que a humanidade ainda hoje é alvo) marca o ritmo: fora com a Europa que já não é um "prolongamento da França"! Fora com a Europa que já não nos interessa pois já "pensa por ela própria".

Nada como abortar o problema antes de ele nascer, cultura bastante europeia também.
Ou será que não?

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