segunda-feira, junho 20, 2005

 

Ensaio do Fado

A malfadada tradição que nos assombra desde há muito e que durante a década que se iniciou com Soares e terminou com Guterres quase parecia caduca, volta à carga e anuncia-se como desperta de um breve descanso para regressar ao nosso tormento.

Falo como é óbvio da cultura do Fado. Não há como enganar: este é o espírito português profundo no seu pico de graciosidade estética máxima, enquanto não se diverte com a pimbalhada vulgar e quotidiana. José Gil tenta descrever o Português como aquele que tem medo do próximo e lhe dificulta a vida, construíndo um sistema à sua volta conivente com a sua vulgarização. E não há nada como o fado para explicar a sua origem.

Mas desengane-se o caro leitor sobre a opressão obrigatória sobre o português: a tragédia com que o português se depara quotidianamente e com o cognome de "sistema" não lhe é imposta: é-lhe essencial para se definir. Ópio que une as massas e lhes dá identidade plural, vaca sagrada da sociedade. Assim sendo, ai de quem lhe retire este drama no qual ele se encontra, seria como retirar-lhe um tapete por debaixo dos seus pés.

Neste sentido, a pausa fadista do tempo cavaquista é perturbante, não faz sentido. Portugal "o bom aluno da europa" estava simplesmente fora de si, enganava-se a ele próprio e fazia-se de quem não era. Tenho de agradecer a Guterres, que compreendendo plenamente a angústia portuguesa de não se rever nas novelas que via todos os dias à noite, lhe devolveu o fado ao criar uma bola de consumismo insustentável e rapidamente implodida. Graças à política portuguesa, os bons velhos costumes lusitanos voltam à sua nação, e a pátria revê-se na identidade recuperada do pessimismo geral e do suspiro religioso galopante. A tristeza voltou, graças a Deus.

É com esperança, uma esperança esta genuína pois baseada na nossa própria identidade, que antevejo uma era de grande tristeza e dor, de desesperança e drama novelesca (brasileira que a nossa ainda peca na sua qualidade) que desde sempre suscitou no mais profundo português o fruto da genialidade criativa e artística do fado!

Resumindo, não é Luís Vaz de Camões o maior português de todos os tempos, mas sim Vasco Pulido Valente.
Ai o faaaaado!!!....

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