sábado, maio 13, 2006

 

Alkoolhismo


Falou-se imenso sobre a tragédia urbanística que abalou a cidade do Porto aquando da criação da Casa. Milhares de vozes acorreram a dizer que o Porto não é a cidade genérica e que Koolhas abusou completamente da malha urbana, que "destruiu" escalas e etc e tal. O pior desses momentos foi quando, na minha escola, apareceu um nome de renome, a admirada Françoise Choay. Veio falar do anti-urbanismo, de como as escolas modernistas destruíram a cidade tradicional e do quão mau era todo o modernismo e todo o paleio já habitual, e usou a Casa como exemplo máximo.

Ora eu, que não me tenho por parvo (embora ainda não tenha comprado nada no media markt), comecei a pensar um pouco. Já viram a Casa? Parece um meteorito caído do céu. Poderá colocar-se em causa esta "queda", porventura arbitrária, em si, conceito facilmente apelidado de "anti-urbanístico" pelo menos numa cidade como o Porto, mas o facto é que o resultado final não é assim tão mau como o pintam. Cria uma referência na rotunda e na própria cidade, seguindo o juízo de Kevin Lynch. Cria um plateau (desculpem o francesismo) bastante urbano no seu acesso. Tem uma escala e altura apropriadas para a malha urbana existente (tendo em conta de que ainda há urbanismo a fazer na zona).

Quer dizer, quando uma pessoa vê coisas todos os dias à sua volta essas sim aberrantes do ponto de vista urbanístico, como o novo Tribunal de Sintra, ou a multitude de Centros Comerciais que tencionam substituir os antigos centros populacionais (tema que dava para outro post), ou a zona do estádio do Benfica (que desastre urbanístico), ou ainda a Alta de Lisboa, isto sem sair do Distrito... virem-me dizer que o Koolhas é o demónio da urbanidade é não ter senso nenhum na cabecinha.

Parece-me é que existe um ódio oriundo da inveja e desconfiança das elites "superstars" da arquitectura, usando todos os meios e argumentos para deitar abaixo as suas obras, por mais despropositadas que sejam. Parece-me uma mania esquerdista muito em voga hoje em dia, uma mania algo egocêntrica oriunda de uma frustração de não conseguir lá chegar também, uma mania de criticar tudo e todos, porque simplesmente "não percebem", e quanto maior o alvo, menos rigorosas precisam de ser as críticas, tudo serve.

Comments:
“Pucha” pá, que violência... então, e seguindo a lógica enunciada na tua posta, todos os que não gostem da postura "anti-urbana" do Kualhas, são uns... "imbejosos" e uns “frustados”, que "não percebem"?
Estou a ver... tu vês tudo, e quem não vê (a arquitectura do kualhas) como tu vês, é porque "não percebe"...
E depois as "generalizações" que teces a despropósito do "perfil" "egocêntrico", do típico (arquitecto) "esquerdista, muito em voga hoje em dia"... (a sério, onde é que eles estão?)...
Bem as generalizações, dizia eu, têm o (d)efeito de ser muito... generalistas, e da realidade não expressarem mais do que uma caricatura, no teu caso, sem muita graça... se é que posso acrescentar.
É claro que no país existem casos muito mais graves de "desurbanização", aliás, dir-se-ia que TODO o país é um caso (terminal) de “desurbanização”, mas isso, antes pelo contrário, não nos deverá inibir de criticar obras (de arquitectos) de excepção que "caucionam" teoricamente, e junto das populações, o tal discurso "anti-urbano".
A casa da música, e independentemente das “milhares de vozes” (que não ouvi…), não é uma “tragédia urbanística” (quanto muito uma farsa…). É um edifício significativo, pela localização, escala e função (também simbólica) que desempenha na cidade (do Porto) e no país (onde “aterrou”…) – projectada por um arquitecto com meritória obra “prática” e teórica – mas isso não o “protege” da critica, por parte dos que dele (da sua obra) discordam e com a qual (profissionalmente…), não se identificam.
As (minhas) críticas à Casa da Música, e tanto, quanto, com justiça, me possa e saiba “psico-analisar” (“tarefa” em que, desculpa o anglicismo, pareces ser um “expert”…), não resultam de nenhum “ódio oriundo da inveja”, e mais do que um “defeito profissional”, são um elogio à capacidade da arquitectura (e do arquitecto) em originarem “pensamento”… disciplinar.
Vã-se lá a ver uma coisa destas…
 
Mas se pensas desse modo, caro am, não é de ti que falo com toda a certeza. Estas vozes ouço-as frequentemente, seja de docentes da minha própria faculdade, seja de críticos teóricos de arquitectura de renome internacional.

A onda "esquerdista" parece-me existir sim, mas num sentido perjorativo de causa, e não no seu sentido "original", de apoio às massas e tal. Esta "onda" vejo-a em bastantes teóricos de arquitectura, mais empenhados em conceitos estranhíssimos, intelectualoidíssimos e incompreensíveis do que propriamente da "arquitectura" em si, fenómeno simplesmente ontológico e como diria um professor amigo meu: "a arquitectura é para estúpidos!"

Ver artigo descoberto pela barriga do arquitecto:

http://bldgblog.blogspot.com/2006/05/architectural-criticism.html

Quanto à crítica em si, seja bem vinda! Aliás, quando tiver tempo, hei de escrever mais algo sobre isto, e esclarecer melhor o meu ponto de vista "crítico" sobre olhar a arquitectura.

E não, não me vejo como supra-sumo seja do que for, digo apenas o que penso.

Abraços e obrigado pelo comentário
 
olá barba rija
para o "pensamento" sobre a Casa da Música, permite-me (sem qualquer soberba) que te recomende a leitura desta minha posta:
http://odesproposito.blogspot.com/2006/04/um-autor-que-difere-jorge-figueira.html
(o Ptolomeu é um bom amigo)
abraços
 
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