domingo, abril 09, 2006
Tradição e Modernidade
Vivemos tempos interessantes. Tempos de indignação e de irreverência, de rebeldia, é só abrir o telejornal à noite para nos depararmos com a violência escalante na França, por exemplo. Tempos de "choques culturais", que é o mesmo que dizer choque de comodidades... tempos de regressão económica e invasão "chindiana" no mercado.
Há uns meses ouvi dizer que a palavra "medo" define os dias do futuro próximo, e faz sentido. Toda esta incerteza abala quaisquer pedras sólidas em que depositámos os nossos seguros de vida, é uma incerteza que gera um ruído incessante, vozes de desespero e de frustração, de tentativa de auto-expressão. Para exemplo, basta vermos como nos comportamos à frente do televisor quando dá um jogo de futebol.
Eu nasci num tempo em que aprendemos a navegar por entre a incerteza, sem referências exactas e em que todas as palavras são interdependentes. Vem-me à memória este meu percurso de vida porque assisto pavida e serenamente (à Capricórnio) a uma discussão sobre conceitos "milenares" como o "casamento" e como tal conceito não deveria ser barbaramente utilizado nos casais homossexuais. Pensei que deveria ter uma opinião forte sobre este assunto. Mas a verdade é que não a tenho! Coloco as coisas desta maneira: tradições são coisas muito importantes na nossa vida, e devem ser respeitadas, mas elas também mudam, transitam, transmutam-se, usem o verbo que mais estiver na moda.
Apanhei este exemplo no Afixe: há coisa de um século, a mulher não podia votar. Mas graças a um movimento imparável, dignificou-se o estatuto de mulher dando-lhe mais esse direito. No entanto, o nome "voto" não mudou só porque haviam uma série de manfios a dizer que o plebiscito feminino não era o mesmo que o "voto" masculino, "Dêem-lhe um nome diferente, é só isso que peço". O que se pede é que de facto não se toque nas sensibilidades alheias e se dê ao casamento um significado que perturbe. É a lógica do não me chateiem e não me digam nada porque eu não quero saber de vós que começa a imperar nos discursos de quem discute. "Não toquem na minha cultura!"
Proteccionismo. Medo, de facto. Medo do futuro, se ele não for escrito por nós ou por alguém em quem confiemos. "Descrença na natureza humana" ouvi dizer no Gato Fedorento sobre a atitude da direita em relação ao Homem. Pois eu também não confio muito na natureza humana. O homem erra e muito, sobretudo em nome do "progresso". Por isto estou dividido, meus caros leitores. Qual o caminho que devamos seguir? O da desconstrução sem receios das palavras "família" e outras que sejam "basilares" nesta nossa cultura milenar, ou o da conservação mumificadora das tradições, por piores que elas sejam na nossa vida?
É que depois existe o reverso da medalha, sabem? Irritam-me tanto as pessoas que me tratam por imbecil sempre que eu tenho uma opinião mais conservadora, chamam-me de misogenista e outras coisas simpáticas, e exigem-me logo explicações. Esquecer-se-ão que são os promotores da mudança que deverão ser eles a ter argumentos convincentes e não o contrário? E que se eu não me convencer, já pensaram que porventura não é por eu ser teimoso e burro mas porque os seus argumentos não são de facto justos e suficientes?
Vá vá convençam-me!
Há uns meses ouvi dizer que a palavra "medo" define os dias do futuro próximo, e faz sentido. Toda esta incerteza abala quaisquer pedras sólidas em que depositámos os nossos seguros de vida, é uma incerteza que gera um ruído incessante, vozes de desespero e de frustração, de tentativa de auto-expressão. Para exemplo, basta vermos como nos comportamos à frente do televisor quando dá um jogo de futebol.
Eu nasci num tempo em que aprendemos a navegar por entre a incerteza, sem referências exactas e em que todas as palavras são interdependentes. Vem-me à memória este meu percurso de vida porque assisto pavida e serenamente (à Capricórnio) a uma discussão sobre conceitos "milenares" como o "casamento" e como tal conceito não deveria ser barbaramente utilizado nos casais homossexuais. Pensei que deveria ter uma opinião forte sobre este assunto. Mas a verdade é que não a tenho! Coloco as coisas desta maneira: tradições são coisas muito importantes na nossa vida, e devem ser respeitadas, mas elas também mudam, transitam, transmutam-se, usem o verbo que mais estiver na moda.
Apanhei este exemplo no Afixe: há coisa de um século, a mulher não podia votar. Mas graças a um movimento imparável, dignificou-se o estatuto de mulher dando-lhe mais esse direito. No entanto, o nome "voto" não mudou só porque haviam uma série de manfios a dizer que o plebiscito feminino não era o mesmo que o "voto" masculino, "Dêem-lhe um nome diferente, é só isso que peço". O que se pede é que de facto não se toque nas sensibilidades alheias e se dê ao casamento um significado que perturbe. É a lógica do não me chateiem e não me digam nada porque eu não quero saber de vós que começa a imperar nos discursos de quem discute. "Não toquem na minha cultura!"
Proteccionismo. Medo, de facto. Medo do futuro, se ele não for escrito por nós ou por alguém em quem confiemos. "Descrença na natureza humana" ouvi dizer no Gato Fedorento sobre a atitude da direita em relação ao Homem. Pois eu também não confio muito na natureza humana. O homem erra e muito, sobretudo em nome do "progresso". Por isto estou dividido, meus caros leitores. Qual o caminho que devamos seguir? O da desconstrução sem receios das palavras "família" e outras que sejam "basilares" nesta nossa cultura milenar, ou o da conservação mumificadora das tradições, por piores que elas sejam na nossa vida?
É que depois existe o reverso da medalha, sabem? Irritam-me tanto as pessoas que me tratam por imbecil sempre que eu tenho uma opinião mais conservadora, chamam-me de misogenista e outras coisas simpáticas, e exigem-me logo explicações. Esquecer-se-ão que são os promotores da mudança que deverão ser eles a ter argumentos convincentes e não o contrário? E que se eu não me convencer, já pensaram que porventura não é por eu ser teimoso e burro mas porque os seus argumentos não são de facto justos e suficientes?
Vá vá convençam-me!