segunda-feira, dezembro 26, 2005
Alcobaça já tem Praia
"Felizes as praias que não foram reabilitadas". O desabafo é cada vez mais comum em Portugal, não só em volta do Mosteiro de Alcobaça, dada a proliferação de "pólis" e "reabilitações urbanas" tão desejadas mas também tão frustrantes para o seus habitantes...
Habitantes? Mas quem são os habitantes? De algum modo perceberão eles de Arquitectura, poderão eles comparar-se com os senhores arquitectos, dignos de honras nacionais e internacionais? Compreenderão eles as intricáveis naturezas internas do Projecto Arquitectónico, as profundas interrogações conceptuais e filosóficas por detrás de cada pedra esccolhida? Claro que não. Denunciam que o Arquitecto não faz Arquitectura para o mero cidadão, mas como poderia Ele, já que o cidadão não é mais que esse ignóbil ignorante, incapaz de compreender alguma coisa desta negociata, perdão deste assunto, chato ele é por natureza e inúmeras vezes indigno de qualquer gesto artístico por parte de qualquer arquitecto com A grande - e certamente por esta mesma razão serão tão bem pagos, amortizar a incomodidade de encarar esse povo ingrato. A missão do Arquitecto é lutar para ter direito a mais do que os quinze minutos daquilo para o qual o seu Dom Divino nasceu.
A vítima, perdão a honra coube desta feita a Alcobaça. O excelentíssimo arquitecto, que trata por tu os cinco maiores arquitectos da europa, fala-nos dos elementos esotéricos com os quais identificou a essência de Alcobaça, conceitos de referência histórica inolvidáveis e eternos, a Água (vinda das nascentes do Alcoa e do Baça, que ali se cruzam e nomeiam a vila), a Pedra, a Areia e outro qualquer elemento platónico ou aristotélico de que já não me lembro. (é suposto esta lengalenga impressionar?) Para o Homem, desenha-se-lhe o lugar para que ele seja honrado pela contemplação da obra do Mestre, e assim viva feliz.
A Areia repreenta o terreiro que com a vinda desses pré-modernistas ignorantes da boa nova byrnesca se transformou num jardim barroco e numa barreira visual ao Mosteiro. Concorde-se que há que corrigir o erro, retorne-se ao terreiro de areia que é bem mais bonito, amarelo com cinza com azul, fica bem nas revistas, perdão na paisagem urbana e que se esqueça da lama que a chuva provoca e o pó que o vento convoca, dito e feito para todos saberem quem é que manda, se é o transeunte que come o pó ou se é o venerabilíssimo, de cuja graça é honrada Portugal.
Estes poucos justíssimos que totalizam e direccionam a disciplina de Arquitectura são os mesmos que nos lembram dos terrores dos Cacéns e das Massamás, que aos arquitectos se retorne o poder de retransformação do país, reabilitação, senão mesmo reconstrução, nem que seja para se continuar o frenesi da Construção Civil, já viram o que seria se o maná do PIB português acabasse? Talvez seja nesta lógica de perpétua reconstrução que se geram as atrocidades autistas que proliferam por muitas "reabilitações" ou "construções" dignas de estrelas internacionais, talvez para que quando os donos de obra acordem do marasmo e Vejam o que têm nas mãos se lembrem de deitar abaixo e reconstruir, mandem vir mais um projecto, ou então talvez não, porque como derrubar uma "obra-prima" como o real areal de Alcobaça, desenhado pelo honrabilíssimo? Respeitinho é muito bonito, e o senhor presidente da Câmara é dos mais ciosos da sua própria pequenez perante tamanha figura do jet set arquitectónico, pregando-nos a todos o caminho espiritual da humildade.
Pois eu cá mando o espírito do respeitinho à merda, passe o termo, o vinte e cinco do abril aconteceu por alguma razão, e por mais que o povinho ainda vote no Salazar, perdão no Cavaco, tenho direito à palavra de indignação perante esta opressão ditatorial. Não é com este autismo disciplinar que os arquitectos ganham o respeito dos concidadãos, não é com o autoritarismo de "quem sabe" que se ganha a consideração da sociedade, é por este meio sim que todos os outros arquitectos se tornam em meros desenhadores com "manias" e "devaneios", meras ferramentas de mais gastar dinheiro para honra e gáudio dos mesmos.
Tratem mal os vossos clientes com a vossa arrogância e autismo, srs. arquitectos, e esqueçam-se de quem vos paga as vossas contas, do vosso papel na sociedade. Quando estiverem a ser desrespeitados e xulados por todo o lado, não digam que não foram avisados... o quê? já acontece? Quem diria...
PS: Escusado será dizer que o Amabilíssimo foi nomeado para o projecto, o que é ilegal (deveria haver concurso), a escuta ao público foi uma farsa (pautada pela recordação de que o Estimadíssimo é que sabe melhor) e, curiosidade, todos os critérios de materiais definidos pelo Diviníssimo eram de tal forma precisos que tiveram de vir da Grécia e do Canadá, adivinhem de quem era a companhia de transporte... Tudo boatos claro, que não tou para ir à justiça por isto.
PS 2: o excelentíssimo, para os mais distraídos, é conhecido pelo nome de Gonçalo Byrne, arquitecto, vencedor de inúmeros prémios nacionais e internacionais.
PS 3: ainda hei de tirar uma boa foto para colocar aqui...
Habitantes? Mas quem são os habitantes? De algum modo perceberão eles de Arquitectura, poderão eles comparar-se com os senhores arquitectos, dignos de honras nacionais e internacionais? Compreenderão eles as intricáveis naturezas internas do Projecto Arquitectónico, as profundas interrogações conceptuais e filosóficas por detrás de cada pedra esccolhida? Claro que não. Denunciam que o Arquitecto não faz Arquitectura para o mero cidadão, mas como poderia Ele, já que o cidadão não é mais que esse ignóbil ignorante, incapaz de compreender alguma coisa desta negociata, perdão deste assunto, chato ele é por natureza e inúmeras vezes indigno de qualquer gesto artístico por parte de qualquer arquitecto com A grande - e certamente por esta mesma razão serão tão bem pagos, amortizar a incomodidade de encarar esse povo ingrato. A missão do Arquitecto é lutar para ter direito a mais do que os quinze minutos daquilo para o qual o seu Dom Divino nasceu.
A vítima, perdão a honra coube desta feita a Alcobaça. O excelentíssimo arquitecto, que trata por tu os cinco maiores arquitectos da europa, fala-nos dos elementos esotéricos com os quais identificou a essência de Alcobaça, conceitos de referência histórica inolvidáveis e eternos, a Água (vinda das nascentes do Alcoa e do Baça, que ali se cruzam e nomeiam a vila), a Pedra, a Areia e outro qualquer elemento platónico ou aristotélico de que já não me lembro. (é suposto esta lengalenga impressionar?) Para o Homem, desenha-se-lhe o lugar para que ele seja honrado pela contemplação da obra do Mestre, e assim viva feliz.
A Areia repreenta o terreiro que com a vinda desses pré-modernistas ignorantes da boa nova byrnesca se transformou num jardim barroco e numa barreira visual ao Mosteiro. Concorde-se que há que corrigir o erro, retorne-se ao terreiro de areia que é bem mais bonito, amarelo com cinza com azul, fica bem nas revistas, perdão na paisagem urbana e que se esqueça da lama que a chuva provoca e o pó que o vento convoca, dito e feito para todos saberem quem é que manda, se é o transeunte que come o pó ou se é o venerabilíssimo, de cuja graça é honrada Portugal.
Estes poucos justíssimos que totalizam e direccionam a disciplina de Arquitectura são os mesmos que nos lembram dos terrores dos Cacéns e das Massamás, que aos arquitectos se retorne o poder de retransformação do país, reabilitação, senão mesmo reconstrução, nem que seja para se continuar o frenesi da Construção Civil, já viram o que seria se o maná do PIB português acabasse? Talvez seja nesta lógica de perpétua reconstrução que se geram as atrocidades autistas que proliferam por muitas "reabilitações" ou "construções" dignas de estrelas internacionais, talvez para que quando os donos de obra acordem do marasmo e Vejam o que têm nas mãos se lembrem de deitar abaixo e reconstruir, mandem vir mais um projecto, ou então talvez não, porque como derrubar uma "obra-prima" como o real areal de Alcobaça, desenhado pelo honrabilíssimo? Respeitinho é muito bonito, e o senhor presidente da Câmara é dos mais ciosos da sua própria pequenez perante tamanha figura do jet set arquitectónico, pregando-nos a todos o caminho espiritual da humildade.
Pois eu cá mando o espírito do respeitinho à merda, passe o termo, o vinte e cinco do abril aconteceu por alguma razão, e por mais que o povinho ainda vote no Salazar, perdão no Cavaco, tenho direito à palavra de indignação perante esta opressão ditatorial. Não é com este autismo disciplinar que os arquitectos ganham o respeito dos concidadãos, não é com o autoritarismo de "quem sabe" que se ganha a consideração da sociedade, é por este meio sim que todos os outros arquitectos se tornam em meros desenhadores com "manias" e "devaneios", meras ferramentas de mais gastar dinheiro para honra e gáudio dos mesmos.
Tratem mal os vossos clientes com a vossa arrogância e autismo, srs. arquitectos, e esqueçam-se de quem vos paga as vossas contas, do vosso papel na sociedade. Quando estiverem a ser desrespeitados e xulados por todo o lado, não digam que não foram avisados... o quê? já acontece? Quem diria...
PS: Escusado será dizer que o Amabilíssimo foi nomeado para o projecto, o que é ilegal (deveria haver concurso), a escuta ao público foi uma farsa (pautada pela recordação de que o Estimadíssimo é que sabe melhor) e, curiosidade, todos os critérios de materiais definidos pelo Diviníssimo eram de tal forma precisos que tiveram de vir da Grécia e do Canadá, adivinhem de quem era a companhia de transporte... Tudo boatos claro, que não tou para ir à justiça por isto.
PS 2: o excelentíssimo, para os mais distraídos, é conhecido pelo nome de Gonçalo Byrne, arquitecto, vencedor de inúmeros prémios nacionais e internacionais.
PS 3: ainda hei de tirar uma boa foto para colocar aqui...
Comments:
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Vim ter a este blog por causa de uma pesquisa no Google sobre Alcobaça, e gostei do post. Também eu em tempos fiz um post sobre o assunto, e esse tem fotografias. Se quiseres utilizar as fotos estás à vontade.
post aqui
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Obrigado João, mas não tenho tido tempo para fazer essas coisas. No entanto fica aí o teu link para que algum curioso mais distraído e navegador possa disfrutar delas.
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