sexta-feira, outubro 21, 2005

 

Arte Contemporanea II

Durante um dos meus devaneios pseudo-filosóficos prendi-me surpreendentemente numa questão tão estúpida e tão óbvia que me parece ser, decerto, um mal-entendido da minha parte - é que só pode! - pois então a questão é esta: porque se chama à Arte de hoje de "Contemporânea"?!?

Não terá sido a Arte sempre Contemporânea? Qual será então a diferença entre arte contemporânea e arte não contemporânea? Um ano? Dois? Três? Vinte? Cem? O que é contemporâneo? Aquilo que se faz "hoje em dia"? E o que é isso? Precisamente, o que é que se faz hoje em dia?

Antigamente era tudo mais simples, toda a arte "contemporânea" obedecia a um estilo, com menor ou maior liberdade, mas desde os finais do século XIX que com a chegada de um novo estilo (autodenominando-se precisamente com o argumento de "novo"), o termo "contemporaneidade" ganha uma mística até então desconhecida. A Arte deixa de ser uma expressão do eterno no presente, uma harmonia da inteligência e da inspiração artística para se tornar numa ferramenta de descoberta da "verdade", seguindo a inspiração da ciência num furor revolucionário de quebra de todos os tabus sociais, religiosos e psicológicos. Assim, torna-se uma "moda", em que cada exposição de artistas tenta ultrapassar a anterior em provocação, desconstruíndo-se num espectáculo de "who's the meanest?", decaíndo num cinismo Andy Worhliano.

Hoje, a arte deixou o palco revolucionário para uma ligeira expressão do individual, onde cada um diz o que quer para quem lhe queira ouvir, num ambiente social ou completamente alheio e desinteressado em geral (mas sempre interessado em particular), ou inundado pelo mercado. A arte desintegrou-se como elemento de comunicação da sociedade para se tornar elemento de comunicação entre indivíduos. Passou de manifesto para mero média, tentando imitar o procedimento científico.

O problema é que a Arte não é Ciência, e ao tornar-se em média, transforma-se em Marketing. O Marketing da "Contemporaneidade", onde cada artista tenta vender uma imagem em que não acredita propriamente, nem tem de acreditar, simplesmente tem de fazer acreditar em que há algo para acreditar, ou seja, criar um distanciamento suficiente entre a obra e o leitor da mesma. Quanto mais estranho, bizarro e sedutor, melhor esconde a real ausência de conteúdos humanos da mesma.

Pela mesma razão o Modernismo nos é impingido e sumarizado como a única hipótese a considerar e evoluir, o eterno processo de Moda na Arquitectura, no qual o Marketing se torna a única hipótese de sobreviver na agressiva concorrência. Ironicamente, como forma se torna tão importante e existe tão pouco tempo, receio que os arquitectos estão a cair na sua própria armadilha, pois cada vez mais são vistos como maluquinhos que fazem uns "desenhinhos", mais preocupados com estéticas incompreensíveis para o mais comum dos mortais mas aos quais o arquitecto está preso por necessidades de vender o seu produto como "moderno" e "contemporâneo", como meio de se tornar conhecido dentro do meio.

O Arquitecto tornou-se a puta que se vende nas exposições de concursos e revistas tal como as Artes plásticas há um século atrás. Qual a saída do bordel? Essa é a minha questão.

Comments:
A resposta a esse problema deu-a Gropius ao fundar a Bauhaus: se é preciso fazer uma arte (leia-se arquitectura) diferente, então é preciso ensinar os artistas (leia-se arquitectos) de maneira diferente.
Acham o ensino da arquitectura presente adequado? Se calhar não...

obvious
 
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