terça-feira, junho 27, 2006
Holland Go Home!
Tenho estado eufórico com esta coisa do Mundial, mas o domingo último foi tão pródigo em emoções, que apenas hoje com alguma frieza mental consigo fazer uma análise daquilo que é tão comentado pela imprensa, o jogo mais violento de há décadas atrás. Repetiram-se imensas razões para o efeito: o calor sentido, a pressão, os jogadores, o árbitro, e todas razoáveis. Mas para mim, o grande orquestrador daquele desafio sem dignidade foi Van Basten.
Já antes do jogo propriamente dito, notei em Van Basten um estado de espírito diferente, estranho, quando entrou nos nossos ecrâns a elogiar Scolari. Parecia algo mais que simplesmente nervoso, ou cuidadoso nas suas palavras, o seu olhar tinha qualquer coisa de comum com um maluco. Elogiava nas palavras para que não se lhe detectassem atrás dos seus olhos o seu desprezo total pelos indígenas lusitanos que humilharam demasiadas vezes a superioridade holandesa. Não estou a exagerar. Pareceu-me cínico e mentiroso, mas foi apenas uma intuição. Durante o jogo tive a certeza: Van Basten não nutria sequer pelo adversário o suficiente respeito para jogar limpo. Viu em Cristiano Ronaldo o calcanhar de Aquiles de que necessitava para derrubar a selecção lusa, e decidiu expulsá-lo do campo, se apenas os seus homens conseguíssem irritá-lo o suficiente. Não o conseguiu expulsar mas pelo menos tirou-o do campo, definindo assim a fasquia de violência pela qual se iria travar o duelo de nações.
O problema é que Portugal não é Jesus Cristo, como diz Scolari, e a coisa lá foi descambando. (Tenho pena que logo no lance que lesionou Cristiano Ronaldo não tenha sido expulso o Holandês, poderia ter sido esse o lance chave que evitaria a escalada de violência, mas nunca o saberemos)
Senti também uma arrogância e desprezo nas faces dos holandeses, incrédulos pelo marcador nos confrontos físicos com os Portugueses. Algo me diz que foi necessário qualquer coisa muito sacana para meter o Figo fora de si daquela maneira (nunca o tinha visto assim). E depois vem o lance em que Van Basten claramente incita o seu jogador a ignorar o fair play. (deste lance ainda me recordo do sorriso malandro do Deco depois da sua falta sobre o holandês - voador). Fica-me no entanto o sentimento de que não era assim o modo como Portugal escolheria fazer o jogo. Mas foi assim que os holandeses quiseram.
Que tipo de pessoa é esta? Que mesquinho rato é este Van Basten, longe dos sucessos de grande jogador que foi, agora usando tácticas intriguistas e sabotadoras, cínicas e desprezáveis, que tipo de canalha é este que vem depois culpabilizar a selecção das quinas porque "usaram muitos truques e souberam gastar muito tempo", e que realmente "É muito mau ver o que o Figo fez."?!?, usando e abusando de uma imagem de "civilização" que a própria Holanda terá como marca para descredibilizar um povo terceiro-mundista como o nosso e esconder as suas próprias artimanhas?
"...apetece dizer:... bem feita!!" , e agora Ricardo, contra os bretões, marchar marchar!!
Já antes do jogo propriamente dito, notei em Van Basten um estado de espírito diferente, estranho, quando entrou nos nossos ecrâns a elogiar Scolari. Parecia algo mais que simplesmente nervoso, ou cuidadoso nas suas palavras, o seu olhar tinha qualquer coisa de comum com um maluco. Elogiava nas palavras para que não se lhe detectassem atrás dos seus olhos o seu desprezo total pelos indígenas lusitanos que humilharam demasiadas vezes a superioridade holandesa. Não estou a exagerar. Pareceu-me cínico e mentiroso, mas foi apenas uma intuição. Durante o jogo tive a certeza: Van Basten não nutria sequer pelo adversário o suficiente respeito para jogar limpo. Viu em Cristiano Ronaldo o calcanhar de Aquiles de que necessitava para derrubar a selecção lusa, e decidiu expulsá-lo do campo, se apenas os seus homens conseguíssem irritá-lo o suficiente. Não o conseguiu expulsar mas pelo menos tirou-o do campo, definindo assim a fasquia de violência pela qual se iria travar o duelo de nações.
O problema é que Portugal não é Jesus Cristo, como diz Scolari, e a coisa lá foi descambando. (Tenho pena que logo no lance que lesionou Cristiano Ronaldo não tenha sido expulso o Holandês, poderia ter sido esse o lance chave que evitaria a escalada de violência, mas nunca o saberemos)
Senti também uma arrogância e desprezo nas faces dos holandeses, incrédulos pelo marcador nos confrontos físicos com os Portugueses. Algo me diz que foi necessário qualquer coisa muito sacana para meter o Figo fora de si daquela maneira (nunca o tinha visto assim). E depois vem o lance em que Van Basten claramente incita o seu jogador a ignorar o fair play. (deste lance ainda me recordo do sorriso malandro do Deco depois da sua falta sobre o holandês - voador). Fica-me no entanto o sentimento de que não era assim o modo como Portugal escolheria fazer o jogo. Mas foi assim que os holandeses quiseram.
Que tipo de pessoa é esta? Que mesquinho rato é este Van Basten, longe dos sucessos de grande jogador que foi, agora usando tácticas intriguistas e sabotadoras, cínicas e desprezáveis, que tipo de canalha é este que vem depois culpabilizar a selecção das quinas porque "usaram muitos truques e souberam gastar muito tempo", e que realmente "É muito mau ver o que o Figo fez."?!?, usando e abusando de uma imagem de "civilização" que a própria Holanda terá como marca para descredibilizar um povo terceiro-mundista como o nosso e esconder as suas próprias artimanhas?
"...apetece dizer:... bem feita!!" , e agora Ricardo, contra os bretões, marchar marchar!!
segunda-feira, junho 12, 2006
Pandemia
Novos casos de febre acentuada e delirante detectados em Oeiras, com os mesmos sintomas do Bom Sucesso. Clicar na imagem para o site oficial.
sábado, junho 03, 2006
Como ter sucesso em 14 passos:
1. A primeira coisa que o jovem superstar deve fazer é estagiar no estrangeiro, e quanto mais longe melhor, pois se há coisa que sabemos dos portugueses é que têm um fascínio sobre o espírito aventureiro que faz as pessoas irem para o outro lado do mundo... fazer exactamente o mesmo que se faz por aqui (mas quem precisa de saber isto?). A outra possibilidade é ingressar num atelier "superstar", cuja quantidade de mediatização deverá respeitar a relação de proporcionalidade invertida com a distância.
2. Conseguido e suado o estágio no tal atelier "superstar", nunca admitir que se fez mapa de vãos em todo o ano que por lá se esteve. Se por acaso se teve a sorte de realmente desenhar alguma coisa, nunca admitir que não se teve liberdade criativa, mas que foi uma "honra" e "prazer" trabalhar no mesmo espaço que a estrela. Dar sempre a sensação de que se falou todos os dias com a estrela, de que se imbuiu totalmente do espírito, inteligência e todos os outros elementos que fizeram do atelier escolhido um fenómeno de sucesso.
3. Regressar a Portugal com um olhar triunfante e mordaz de quem esteve com os melhores e que não se importa muito de partilhar a sua sabedoria conquistada com os indígenas.
4. Ler coisas francesas (nunca americanas!). Importante conhecer os mais ilustres, especialmente os ilegíveis (Gilles e Deleuze, por exemplo) mas mais importante ainda é descobrir coisas inéditas e desconhecidas pelos outros, e portanto exóticas. Discutir conceitos obscuros como "deslocação conceptual" ou "elementos maquínicos" em contextos não relacionados de modo a baralhar e confundir o outro, ao mesmo tempo que invoca o problema actual da descontextualização geral. Introduzir a expressão "muito interessante..." de vez em quando no discurso, fazendo com que o interlocutor, que até ali não percebeu nada (o que de algum modo diz da sua boa inteligência) se admire de quantos assuntos lhe passam ao lado por ser pouco intelectual.
5. Conseguir abrir e sedimentar um atelier economicamente. Basicamente, ter amigos com dinheiro dispostos a aturar os erros de principiante.
6. Conseguir dar estatuto arquitectónico ao atelier. Basicamente convencer as revistas de estarem perante um case-study "muito interessante" (lá vem a expressão outra vez) ou perante uma arquitectura "emergente" (que pareça responder às preocupações arquitectónicas no seu zeitgeist). O exemplo de hoje é a expressão "Bio-Climática": sucesso garantido.
7. Convencer o cliente de que a oportunidade de contribuir para a "investigação" arquitectónica é importantíssima para o sector, e que para isso é necessário uma "mente aberta" à criatividade do arquitecto, assim como é óbvio, pilim. Se o cliente perceber que não passa de uma estratégia de marketing do atelier para parecer original (e portanto "muito interessante") não importa muito, pois a sua inteligência também há de perceber que a sua casa será alvo de publicidade também, e consequente status social, último grito, é fash. (olha tenho uma casa dos Mateus! Olha e eu do Siza! Siza? Esse já está ultrapassado, pá! Quem está a dar é o Souto!)
8. Conseguindo um mercado estável de vivendazinhas para novos-ricos e de recuperaçõezinhas (também na moda) para os velhos-ricos, é altura de arriscar concorrer num concursozeco público e esperar que o vencedor não esteja já pré-escolhido. Tendo essa sorte, das duas uma: ou se vence o concurso e portanto deve-se usar o material o máximo possível para publicidade do atelier, ou se o perde, explorando ao máximo o projecto em revistas que se interessem por casos perdidos.
9. Explorar os empregados, convencendo-os de que não são realmente empregados, mas sim estagiários. Para toda a vida, se possível.
10. Dar entrevistas aos média (compostos pelos amigos). Dizer barbaridades como proclamar-se contra as vivendas porque são anti-urbanas (enquanto se fazem doze ou treze no atelier), escrever livros sobre os problemas emergentes e as belezas efémeras arquitectónicas. Falar dos franceses. Pintar quadros abstractos: ficam sempre bem e nunca se pode acusar o autor de pobreza cultural. Além de que adicionam o arquiteco ao "círculo" de artistas. Sempre conveniente.
11. Ir a conferências. O assunto deve ser o mais "emergente" possível. Depois de perceber que a platéia contém pessoas influentes, colocar questões "muito interessantes" de modo audível para que todos percebam. Não exactamente a pergunta, mas quem a fez.
12. Fazer projectos como se estivessemos no quinto ano da faculdade: oníricos. Pouco importa a sua validade e objectividade. Uso e abuso de conceitos exteriores à experiência arquitectónica como fundamentos da forma. Quanto mais bizarros e "emergentes" melhor.
13. Ganhar suficiente importância e influência política para já não necessitar de "ganhar" concursos. Isso é para wannabes. Mas se vos oferecerem concursos "virtuais", aceitem-nos, desde que seja garantida a vossa vitória no final. Apesar de tudo, as ideias alheias até poderão ser úteis de alguma maneira ao objecto final.
14. Receber prémios. Importantíssimo. Para isto é preciso estar na graça das revistas arquitectónicas durante anos e para isto é necessário garantir todos os passos 1-13 durante décadas a fio. É só para artistas! Sentem-se preparados?
2. Conseguido e suado o estágio no tal atelier "superstar", nunca admitir que se fez mapa de vãos em todo o ano que por lá se esteve. Se por acaso se teve a sorte de realmente desenhar alguma coisa, nunca admitir que não se teve liberdade criativa, mas que foi uma "honra" e "prazer" trabalhar no mesmo espaço que a estrela. Dar sempre a sensação de que se falou todos os dias com a estrela, de que se imbuiu totalmente do espírito, inteligência e todos os outros elementos que fizeram do atelier escolhido um fenómeno de sucesso.
3. Regressar a Portugal com um olhar triunfante e mordaz de quem esteve com os melhores e que não se importa muito de partilhar a sua sabedoria conquistada com os indígenas.
4. Ler coisas francesas (nunca americanas!). Importante conhecer os mais ilustres, especialmente os ilegíveis (Gilles e Deleuze, por exemplo) mas mais importante ainda é descobrir coisas inéditas e desconhecidas pelos outros, e portanto exóticas. Discutir conceitos obscuros como "deslocação conceptual" ou "elementos maquínicos" em contextos não relacionados de modo a baralhar e confundir o outro, ao mesmo tempo que invoca o problema actual da descontextualização geral. Introduzir a expressão "muito interessante..." de vez em quando no discurso, fazendo com que o interlocutor, que até ali não percebeu nada (o que de algum modo diz da sua boa inteligência) se admire de quantos assuntos lhe passam ao lado por ser pouco intelectual.
5. Conseguir abrir e sedimentar um atelier economicamente. Basicamente, ter amigos com dinheiro dispostos a aturar os erros de principiante.
6. Conseguir dar estatuto arquitectónico ao atelier. Basicamente convencer as revistas de estarem perante um case-study "muito interessante" (lá vem a expressão outra vez) ou perante uma arquitectura "emergente" (que pareça responder às preocupações arquitectónicas no seu zeitgeist). O exemplo de hoje é a expressão "Bio-Climática": sucesso garantido.
7. Convencer o cliente de que a oportunidade de contribuir para a "investigação" arquitectónica é importantíssima para o sector, e que para isso é necessário uma "mente aberta" à criatividade do arquitecto, assim como é óbvio, pilim. Se o cliente perceber que não passa de uma estratégia de marketing do atelier para parecer original (e portanto "muito interessante") não importa muito, pois a sua inteligência também há de perceber que a sua casa será alvo de publicidade também, e consequente status social, último grito, é fash. (olha tenho uma casa dos Mateus! Olha e eu do Siza! Siza? Esse já está ultrapassado, pá! Quem está a dar é o Souto!)
8. Conseguindo um mercado estável de vivendazinhas para novos-ricos e de recuperaçõezinhas (também na moda) para os velhos-ricos, é altura de arriscar concorrer num concursozeco público e esperar que o vencedor não esteja já pré-escolhido. Tendo essa sorte, das duas uma: ou se vence o concurso e portanto deve-se usar o material o máximo possível para publicidade do atelier, ou se o perde, explorando ao máximo o projecto em revistas que se interessem por casos perdidos.
9. Explorar os empregados, convencendo-os de que não são realmente empregados, mas sim estagiários. Para toda a vida, se possível.
10. Dar entrevistas aos média (compostos pelos amigos). Dizer barbaridades como proclamar-se contra as vivendas porque são anti-urbanas (enquanto se fazem doze ou treze no atelier), escrever livros sobre os problemas emergentes e as belezas efémeras arquitectónicas. Falar dos franceses. Pintar quadros abstractos: ficam sempre bem e nunca se pode acusar o autor de pobreza cultural. Além de que adicionam o arquiteco ao "círculo" de artistas. Sempre conveniente.
11. Ir a conferências. O assunto deve ser o mais "emergente" possível. Depois de perceber que a platéia contém pessoas influentes, colocar questões "muito interessantes" de modo audível para que todos percebam. Não exactamente a pergunta, mas quem a fez.
12. Fazer projectos como se estivessemos no quinto ano da faculdade: oníricos. Pouco importa a sua validade e objectividade. Uso e abuso de conceitos exteriores à experiência arquitectónica como fundamentos da forma. Quanto mais bizarros e "emergentes" melhor.
13. Ganhar suficiente importância e influência política para já não necessitar de "ganhar" concursos. Isso é para wannabes. Mas se vos oferecerem concursos "virtuais", aceitem-nos, desde que seja garantida a vossa vitória no final. Apesar de tudo, as ideias alheias até poderão ser úteis de alguma maneira ao objecto final.
14. Receber prémios. Importantíssimo. Para isto é preciso estar na graça das revistas arquitectónicas durante anos e para isto é necessário garantir todos os passos 1-13 durante décadas a fio. É só para artistas! Sentem-se preparados?